Uma das peças mais obscuras dos anos 1980 ganha finalmente as cores da nossa resenha costumeira.
Produzida por uma cooperativa entre Espanha e Itália, dirigido pelo vencedor do Festival de Veneza Bigas Luna, nós temos desta vez um suspense psicológico acerca de um homem de meia idade que vive com a mãe num ambiente inóspito e trabalha numa clínica especializada em estudos e cirurgias oculares.
Mas por traz desta fachada de homem dedicado ao trabalho e à mãe que tem certa idade se esconde um serial killer que não satisfeito em matar ele ainda retira os olhos das vítimas para a coleção particular da genitora.
E as surpresas não param neste universo cheio de violência e loucura garantindo segurar o espectador até o final...
Tudo começa em um dia normal entre John Pressman e sua mãe com quem vive em uma casa cheia de pombos e caracóis que a dupla cria como se fossem seus filhos.
Uma das pombas chamada de Tommy escapa da gaiola dando um tremendo trabalho aos donos ao ficar presa atrás de um móvel até ser resgatada.
John trabalha como optometrista num centro especializado em lentes de contato e cirurgias oculares corretivas. O homem faz mal seu trabalho ao pingar um colírio em uma cliente que se queixa de ardência. Escondido, John ouve seus superiores explicando à tal cliente que o optometrista que cuidou dela está hiper sensível por conta do avanço de sua diabetes que o deixou propenso a perder a visão.
Estranhamente, a mãe de John consegue ouvir tudo que ele ouve através de uma concha e ela consegue manipula-lo através de hipnose e isso a mantém sincronizada à mente dele.
À noite, John vai até a residência da paciente de mais cedo para fazer a troca de suas lentes e ao faze-lo na surdina (já que o marido da madame ouve ópera em pleno som alto) o optometrista a perfura com seu bisturi até matá-la.
Assim que o marido dá por falta, ele sobe até o quarto e flagra John que o ataca fazendo-o cair das escadas e depois dá o golpe final acertando seu coração em cheio.
Enquanto isso, a mãe de John recebe uma ligação da clínica onde ele trabalha sendo informada que o filho está por um fio de perder seu emprego pela má execução de suas funções.
Furiosa, a mulher promete se vingar e usa sua influência mental para fazer com que John colete os olhos de suas vítimas e nisso descobrimos duas jovens chamadas Patty e Linda no cinema assistindo à um filme chamado "A mãe" que é nada menos que Os olhos da cidade são meus...sim, estávamos vendo um filme dentro de um filme o tempo todo.
Voltando à "A mãe", John volta para casa se queixando de dor de cabeça e dentro de sua casa vemos sua mãe cercada de vários olhos humanos preservados e a velha diz que em breve os olhos da cidade serão dela e do filho.
Enquanto isso, Patty, Linda e o resto dos espectadores do cinema sofrem os efeitos da hipnose da mãe passando a ouvir sua vós ecoando pelas suas mentes onde a velha repete diversas vezes "siga para a luz" e aqui eu não consigo pensar em outra coisa senão uma referência direta e bem criativa à Poltergeist - O fenômeno, uma vez que a frase foi dita originalmente pela personagem de Zelda Rubinstein, a médium Tangina.
Ao final da hipnose torturante, John está disposto a se vingar com a ajuda da mãe e resolve ir até o cinema para conseguir novas vítimas e entra no meio da sessão do filme O mundo perdido de 1925 (sim um filme real deveras inovador para a época sobre o mundo pré-histórico com dinossauros movidos por animação em stop motion).
Sem perda de tempo, John assassina um dos espectadores silenciosamente e retira seus olhos sem chamar a atenção dos demais e tudo orientado mentalmente pela mãe.
Na vida real, Patty que está impressionada com a violência crua do filme vai até o banheiro para espairecer e começa a ouvir a voz da mãe de John em sua mente mesmo desconectada do filme enquanto o maluco faz outra vítima. A jovem sente que há alguém a observando no banheiro feminino e vê alguém de fato o que a faz correr de volta para a sessão onde conta para Linda que viu o homem do filme no toalete coletivo.
Enquanto Linda sai para averiguar o banheiro, John é orientado pela mãe a voltar para casa com os olhos que ele coletou e apesar da relutância em continuar ele acata ao comando da mãe.
Paralelamente na vida real, uma pessoa misteriosa chega na lanchonete do cinema e mata uma garçonete com um tiro na cabeça e a arrasta até o banheiro feminino onde Linda vê o ocorrido às escondidas.
Paralelamente no filme, John invade o banheiro feminino e mata uma senhorinha estrangulada enquanto a mãe implora que ele volte para casa. Depois, ele mata outra mulher que de fato usava o toalete e depois sai para comprar pipoca.
Um espectador do cinema percebe que Patty está em pânico por conta do filme e tenta ajuda-la a se acalmar e ela conta que sua amiga está no banheiro faz um bom tempo e o rapaz se dispõe a ir atrás de Linda, porém ao chegar no toalete leva um tiro mortal na cabeça de um rapaz misterioso que age como se fosse John e como se a mãe fosse mãe dele e que ele a ouve o guiando em sua mente.
O atirador sai do banheiro e Linda consegue deixar o cinema partindo em busca de ajuda até encontrar um homem para quem ela conta que há um assassino no estabelecimento mas de primeira ele não acredita por pensar que ela está imaginando coisas por algo que ela viu em algum filme.
No filme, John é flagrado pelo segurança do cinema que chama a polícia impossibilitando o serial killer a sair do estabelecimento.
O atirador do cinema entra dentro da sessão de "A mãe" e rende Patty e a silencia ameaçando mata-la e aos outros espectadores.
Os clientes do cinema do filme se dão conta dos mortos dando início a um empurra-empurra generalizado.
Na real, Linda consegue que o homem que ela abordou entre no cinema e o mesmo encontra rastros de sangue.
No filme, John consegue fugir do cinema mas é atingido pela voz da mãe que pede que ele volte para casa entrando em surto. Em seguida, a multidão que fugira da sessão do cinema encontra John com a arma do crime em mãos e ele mata um homem e abduz uma mulher enquanto a mãe se prepara para sair de casa para buscar o filho.
O atirador real do cinema inicia uma chacina quando é interrompido ao tentar falar com a mãe do filme e outra correria agora na vida real acontece.
Neste momento, a polícia e os paramédicos chegam ao cinema da vida real enquanto Patty é feita refém.
Uma força-tarefa é designada para inovador o cinema por um duto até que eles conseguem se infiltrar dentro da sessão onde rendem o atirador que diz estar esperando a mãe vir busca-lo.
O louco atira no telão mirando em John e isso dá brecha para Patty se soltar, mas ela surta acreditando que seu olho foi perfurado quando na real não foi e em paralelo o atirador é executado.
Patty é retirada em choque do cinema pelos paramédicos e se encontra com Linda.
A última cena do filme é mostrado que tanto John quanto a mãe morreram no final.
Depois de toda a confusão, Patty é internada no hospital e ela pede à amiga que fique com ela, mas a equipe médica proíbe forçando a jovem a ir embora por hora.
Linda deixa o hospital, mas é assassinada por alguém que invade o local e adentra ao quarto de Patty levando seus remédios e este não é nada menos que John que diz para a jovem que ele só existe na mente dela e inicia um exame de vista em Patty que grita de pânico.
Os créditos sobem no telão de um cinema enquanto os espectadores vão embora aos poucos revelando que no fim das contas estávamos vendo um filme dentro do filme dentro de outro filme...
Realmente, o filme é uma grande surpresa podendo ter sido só mais um slasher oitentista só que desta vez com mais crueza na violência, mas acabou mudando toda a fórmula se revelando um verdadeiro teste de resistência com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo e com as constantes hipnoses da mãe que com certeza ficou impregnada na mente de quem assistiu o filme na época.
Como eu já disse, a violência está bem fora da medida para um filme Hollywoodiano mesmo para a época, quase chegando perto de um bom giallo a la Joe D'Amato, o que sinceramente eu gostei muito e não me preocuparia se o filme fosse todo focado no universo ficcional de John e a mãe e que tivéssemos um desenrolar satisfatório tipo um enfrentamento final de vida ou morte entre mãe e filho.
O que tivemos no entanto foi mais uma crítica social à influência que os filmes de terror podem ter sobre as pessoas e como psicopatas podem criar outros psicopatas na vida real, fazendo as pessoas se tornarem fanáticos obcecados pela obra a ponto de replica-la na vida real, o que infelizmente é uma constante ainda nos dias de hoje; então o argumento do roteiro é válido.
Mas voltando ao ficcional, as atuações de Michael Lerner como John e claro, a imortal Zelda Rubinstein na época áurea da trilogia Poltergeist estão um primor, além da química entre os dois ser perfeita, trazendo um dueto de assassinos ímpar.
No mais, a obra ainda é muito boa, mas é do tipo que só funciona da primeira vez que se assiste, por que depois o plot twist foi revelado o filme perde o charme. Então se o filme é inédito para você e você pulou todo o resumo para pegar a crítica direta, ainda dá tempo de não tomar spoiler, se não, só lamento. Mas mesmo assim, assista, o filme é todo caprichado nos mínimos detalhes e não deixa lacunas e nem furos, não que eu tenha notado, mas...
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