Já fazia muito tempo que eu queria trazer esta obra original da Netflix que de tão boa nem parece ter sido produzida na terra do Tio Sam.
Se trata de um terror psicológico de casa assombrada com uma pitada de realidade e nos apresenta à um casal vindo do Sudão fugindo de uma guerra e que tenta se ajustar em uma cidade inglesa vivendo em um apartamento decadente que trás com eles traumas do passado.
O filme carrega do início ao fim as culpas e os traumas dos protagonistas personificados em fantasmas opressores que a todo instante brincam com o psicológico dos mesmos levando-os a se jogarem um contra o outro e tornar o convívio um verdadeiro inferno.
Tudo começa em uma vila humilde no Sudão com caminhonetes levando numerosos grupos de pessoas até o porto e de lá. o grupo segue amontoado em um barco enfrentando a noite, o frio e o medo que leva alguns a serem jogados no mar onde morrem afogados.
Finalmente em terra, mais precisamente na Inglaterra, o casal Bol e Rial Majur que estão refugiados da guerra passam por uma entrevista com as autoridades ao serem detidos com o resto do grupo para conseguirem asilo já que a cidadania lhes fora negada.
Bol e Rial terão que ficar por um tempo não especificado em uma casa de acolhimento para testar sua permanência no país sendo escoltado pela polícia que é fria com eles e lhes passam ao chegar em um conjunto residencial decadente uma séries de regras para que o processo de inclusão siga sem menores problemas.
Devidamente instalados em um apartamento sujo e notoriamente destruído, o casal Majur faz planos para o recomeço de suas vidas otimistas de que tudo vai dar certo.
Perto do amanhecer, Bol caminha pela nova casa e sente uma atmosfera pesada somada aos traumas da fuga da guerra do Sudão que permeiam seu subconsciente.
Bol ouve uma batida vindo debaixo de um móvel e ao se virar, vê rapidamente a fantasma de uma menina refugiada que seguiu com ele e Rial e morreu ao cair no mar.
Quando finalmente amanhece, Bol junta o lixo da casa e sai para conhecer a vizinhança que não é nada acolhedora.
Um tempo depois, Bol vai até a barbearia para cortar o cabelo e conhecer a cidade até que ganha alguns mantimentos da igreja e por fim vai até um bar para tentar se sentir incluso... em vão.
Chegada a hora de dormir, Bol fica inquieto e vai até um quarto onde um pedaço de papel de parede se solta revelando um buraco escuro que dá num compartimento de onde o rapaz puxa um pedaço de fio que parece não ter fim e este se torna uma corda cuja ponta final trás uma boneca que é puxada de volta para dentro por uma mão cadavérica.
O buraco simplesmente desaparece e Bol resolve descascar todo papel de parede.
Ao amanhecer, Rial sai para levar o lixo e tem uma alucinação com seus irmãos do Sudão na caçamba da caminhonete para a fuga da guerra até o porto.
Depois, Rial sai de casa seguindo um mapa desenhado pelo representante da imigração e acaba andando em círculos até encontrar um grupo de adolescentes para quem ela pede informação sobre a rua que ela precisa rir, mas o trio a ridiculariza de forma xenofóbica (a ironia é que o trio de moleques é formado por negros).
Passado o mal estar, Rial vai até o posto de saúde para fazer um check up e tomar as vacinas obrigatórias e compartilha com a médica a história da guerra entre duas tribos que disputam o comando de sua vila.
Ao voltar para casa, Rial vê o buraco na parede do quarto da noite anterior e sentindo que se trata de uma peça sobrenatural ela se mantém forte e ignora até a chegada de Bol na hora do jantar.
Durante a refeição, Rial tem uma discussão por conta de sua filha Nyagak que morreu durante a travessia no mar.
Mais tarde, Bol segue descascando mais papel de parede até sentir uma presença que se materializa na forma de um vulto que se torna a fantasma de Nyagak que usa uma máscara bizarra e segura uma faca que ela usa para atacar o refugiado que corre para fora da casa momentaneamente.
Ao voltar para dentro, Bol diz à Rial que eles foram amaldiçoados e queima todos os pertences que eles trouxeram do Sudão incluindo uma boneca que era de Nyagak.
Na manhã seguinte, Bol vai até uma loja de roupas para comprar uma camisa e ao voltar para casa, começa a trabalhar na restauração da fiação elétrica pelo dia todo.
Durante o jantar, Bol conversa com Rial tentando convence-la a distrair sua cabeça com alguma atividade para não ficar remoendo as dores do passado.
Enquanto come, Bol tem uma alucinação com o mar e os refugiados mortos se erguendo de seus túmulos subaquáticos.
Quando acorda, Bol ouve passos e vê pegadas úmidas no chão seguido do cadáver de Nyagak e outros fugitivos do Sudão no chão. Os cadáveres se convertem em fantasmas e agarram Bol enquanto Nyagak tenta degolá-lo, mas quando o marido de Rial liga a luz todos desaparecem. No mesmo instante, Bol vê Nyagak rastejando dentro das paredes e surta gritando que "a casa é dele".
Na manhã seguinte, Bol vai até a imigração falar com o representante da imobiliária sobre os eventos sobrenaturais da casa, mas ao se dar conta de que ninguém vai acreditar, ele alega que a residência tem problemas com ratos e insetos, pedindo para trocar de casa.
Enquanto isso, Rial tem uma alucinação com Nyagak jogando um colar de trás da parede.
O representante da imobiliária avalia os estragos nas paredes da casa e Rial menciona o fantasma de Nyagak ficando vista como louca.
Depois que a avaliação termina, Rial diz ao marido que quer voltar para o Sudão mas Bol a convence de que aquele é o novo lar deles.
Mais tarde, Bol tenta entrar em contato com as assombrações e espera por horas até cair no sono. Bol corda dentro de uma alucinação onde entra em contato com uma entidade chamada de A besta, que na verdade é um bruxo e este tenta convencer o refugiado a cortar sua carne em troca dele ter Nyagak de volta à vida.
Depois, Bol alucina com o mar e Nyagak o encarando até que uma cobra sai de dentro da boca da menina.
Rial acorda na manhã seguinte e tenta abrir um buraco na parede para encontrar a filha e acaba esfaqueando Bol.
Desesperada, Rial corre e pula a janela para fugir de casa mas é teletransportada para o Sudão horas antes da fuga e encontra a família dentro de uma escola no meio de um culto onde ela se sente feliz e a vontade.
Rial no entanto percebe que aquilo é só um sonho e pergunta por Nyagak. Bol aparece no momento de levar a mulher para a caminhonete e nisso, temos um vislumbre de toda a família de Rial morta jogada no chão da escola e sem tempo para se lamentar o casal Majur procura por sua liberdade.
Bol e Rial caminham por uma Sudão apocalíptica até chegar em um ônibus lotado de refugiados onde eles tentam entrar a todo custo, mas a condutora diz que lá só pode entrar crianças e que já está cheio. Desesperados no meio de um tiroteio entre os radicais, os Majur acabam subtraindo Nyagak que descobrimos ser filha de outra mulher e assim eles conseguem um lugar no ônibus que os levará na vila vizinha onde eles pegarão uma caminhonete até o porto.
Mesmo com o apelo da mãe verdadeira de Nyagak, Bol e Rial seguem viagem até perder a mulher de vista no meio da poeira.
Depois, os refugiados pegaram a caminhonete e o barco resultando na morte de Nyagak e tantos outros como já sabemos.
A voz do bruxo diz à Rial que ela pode trazer Nyagak de volta à vida sacrificando Bol mas que tem que ser pelas mãos dela mesma.
De volta a realidade e dentro de sua casa, Rial acorda e percebe que Bol está se entregando de bom grado à Besta a partir do corte que ela fez no braço dele antes de apagar.
Bol revela à esposa que ele também vê o fantasma de Nyagak e de seus irmãos do Sudão e que a Besta irá levá-lo. O homem pede para Rial fugir e nisso, a personificação de Nyagak aparece segurando a mão da mãe adotiva e esta tem flashbacks e resolve se despedir da filha da alma dizendo que vai para casa.
Ao soltar de Nyagak, Rial agarra a faca e degola a Besta personificada a matando.
Dias depois, o representante da imigração aparece para avaliar a casa e encontra as paredes rebocadas e tudo em ordem além do casal Majur mais tranquilo.
Bol diz que seus fantasmas nunca irão embora, mas que agora ele e a mulher conseguiram superar suas dores e culpas do passado.
Com a avaliação concluída, a equipe da imigração vai embora e nisso, vemos a personificação de Nyagak e dos irmãos de Sudão que se foram agora em paz e coexistindo com os vivos como uma grande família feliz, naquela que agora é também a sua casa...
Definitivamente é uma das grandes surpresas de 2020 e chegou timidamente chamando a atenção com sua trama carregada e envolvente com mistérios muito bem elaborados.
O terror psicológico é de primeira trazendo cenas memoráveis com sustos efetivos, jumpscares de deixar muita produção Hollywoodiana com inveja.
A atuação do casal Sope Diriso e Wunmi Mosaku que dão vida à Bol e Rial respectivamente é perfeita, convincente e nos faz ter o mínimo de empatia pelos mesmos.
Os efeitos especiais, o roteiro e toda a produção técnica estão de parabéns, a obra é digna de ser lembrada constantemente e merecia ter sido muito mais reconhecida devido o capricho de toda a história que se desenrola muito bem e nos revela com o tempo um lado dos protagonistas que nunca iríamos imaginar.
No mais, o filme é uma ótima opção para o Halloween já que trás tudo o que está proposto: uma história muito bem escrita e cheia de reviravoltas, um protagonismo forte, a história causa medo de verdade e o susto é garantido à todo momento assim que a casa que parece ser a grande vilã aparece. Vai por mim.
Trailer:
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