Resgatando filmes esquecidos eu encontrei um terror psicológico muito bom de 2008 que poderia ter sido maior se não fosse o desinteresse do público que largaram a obra à deriva na época áurea dos DVDS.
À primeira vista o filme parece mais um terror de possessão genérico mas aos poucos vai revelando camadas de uma história muito mal contada advinda de uma ilha isolada da Irlanda onde existe uma camponesa que foi acusada de tentar matar um bebê enquanto servia de babá.
O caso acaba indo parar nas mãos de uma psiquiatra divorciada que tem um trama pessoal com a perda do filho pequeno vítima de um afogamento.
A medida em que se aprofunda no caso, a protagonista descobre que a acusada tem episódios de múltipla personalidade que na verdade podem ser espíritos opressores querendo usar a menina para o mal, mas... e se não for exatamente isso que está acontecendo?
Tudo começa durante o culto do pastor Ross em uma capela pequena numa humilde comunidade rural de Island Ferry.
Com o término do culto, o casal Aiden e Maureen Kearsley volta para casa onde deixaram sua bebê e filha caçula aos cuidados da jovem Dorothy Mills, mas o que encontram no quarto é a pequena sendo asfixiada até a morte pela própria babá.
A cena corta e conhecemos a psiquiatra Jane Morton dentro de um hospital psiquiátrico passando por uma sessão gravada em fita k-7 iniciando a história que a conecta à misteriosa Dorothy Mills que acabou se tornando o assunto da ilha quando o ataque à bebê dos Kearsley veio à tona o que a fez ir até a ilha.
A história de Jane começa com sua chegada à ilha coincidindo com a passagem de um grupo de adolescentes em outro carro em alta velocidade aparentando estarem fugindo de alguém que faz com que a psiquiatra acabe colidindo com a mureta de proteção e submergindo no mar, porém ela emerge com vida milagrosamente enquanto os jovens somem no horizonte.
Socorrida pelos populares, Jane é acolhida e acomodada na pensão da senhora McCllellan horas após o susto.
Na manhã seguinte, Jane diz à sua benfeitora não ter conseguido dormir à noite por conta de um barulho de guitarra mas a senhora diz que só as duas moram no local atualmente.
Ao se dirigir até o refeitório, Jane vê uma velhinha cega que apesar da condição parece encará-la.
Horas depois, Jane vai até a casa da família Mills onde entrevista Eileen McMahon que se tornou guardiã de Dorothy quando a jovem ficou órfã e diz que já à introduziu ao meio do babysitting anteriormente ao fatídico ocorrido mas que sua primeira experiência não foi das melhores uma vez que Dorothy praticamente fez seu primeiro cliente mamar pelo nariz até sangrar.
Depois, Jane vai até o quarto de Dorothy para falar com ela e a conhecemos finalmente, uma menina jovem, pálida, sem sobrancelhas, magra e de madeixas claras que fala macio e está longe de qualquer suspeita.
Após a primeira avaliação, Jane vai até a escola improvisada do pastor Ross que além e sacerdote e docente também é médico e cuida de Dorothy desde que ela nasceu e a está assessorando desde o episódio da asfixia da bebê dos Kearsley.
O pastor desacredita da medicina convencional no caso de Dorothy e a considera como um anjo que Deus enviou do céu.
De volta á pensão, Jane conhece o jovem xerife Colin Garrivan com quem se simpatiza rapidamente.
Momentos depois, Jane vai até seu quarto para avaliar fotos da perícia do cadáver da bebê dos Fallon e começa a ouvir o barulho ensurdecedor da guitarra de antes somado à oscilação das luzes.
Em paralelo, temos uma sessão espírita comandada pelo pastor Ross onde ele tenta fazer com que o espírito de uma criança morta se manifeste através de Dorothy para que fale com os pais da mesma, mas a criança está inquieta no momento e não se pronuncia.
Jane tenta dormir mas a buzina de um carro a impede. Ao se levantar para ver pela janela, Jane percebe que é o carro com os jovens que provocaram o acidente na chagada à ilha.
Na manhã seguinte, Jane procura por Colin para falar sobre o que viu e ouviu, mas o xerife tenta convence-la de que ela está cansada e por isso está vendo coisas que não existem.
Ao ver uma foto do filho pequeno de Colin que mora afastado da ilha com a mãe, Jane revela ter um filho de mesma idade que morreu e vai embora chorar sozinha.
Depois, Jane volta à residência de Eileen que diz acreditar fielmente na inocência de Dorothy perante as acusações dos Kearsley e a psiquiatra leva a jovem para dar uma volta até um penhasco onde ela diz que sempre sonhou em voar.
Passado um longo dia de trabalho, Jane volta para a pensão e sonha com os adolescentes do acidente.
Na manhã seguinte, Jane vai até a igreja para buscar Dorothy para sair novamente e a jovem revela ter assumido a identidade de uma menininha de quatro anos chamada Mimi que diz que sua "hospedeira" está dormindo.
Durante o passeio, Jane compra um vestido para "Mimi" e depois a leva até a pensão onde a menina dorme enquanto a psiquiatra a avalia.
No meio do sono, Dorothy emula a voz de um jovem mal educado que chama Jane de vadia e a ameaça de morte indo embora logo depois para a jovem voltar a si.
No mesmo instante, Eileen chega e leva Dorothy embora.
Jane vai até um orelhão no meio do nada para dizer ao seu superior que irá ficar na ilha por mais um tempo mas a ligação cai repentinamente.
Ao voltar para a pensão, Jane encontra Dorothy fumando sobre sua cama e usando uma peruca ruiva e dizendo se chamar Mary, uma adolescente mal educada e beberrona.
Jane desconfia de que foi Mary que asfixiou a bebê dos Kearsley mas a adolescente nega.
Num vislumbre de um flashback, vemos a verdadeira Mary e seus dois amigos que são o trio de adolescentes do acidente indo até um festival ao ar livre cheio de música tradicional e bebida.
Na manhã seguinte, Paul Fallons, um dos populares encontra sua criação de ovelhas totalmente assassinada com buracos nos pescoços.
Jane aparece no local para entrevistar a mulher de Paul e seu filho adolescente Jake que é evasivo, mas a senhora Fallons joga a culpa da morte das ovelhas em Dorothy e chama a psiquiatra de vadia.
Paul por sua vez, tenta agredir Jane a culpando e Colin aparece e contém o fazendeiro enquanto a psiquiatra foge.
Ao voltar para a pensão, Jane tenta ligar para a sua cidade mas é em vã. Lá, ela ainda encontra a velhinha misteriosa que a encarou na chegada à pensão e a mesma diz para a jovem ir ver a igreja e que ela deixou o diabo entrar em casa.
Enquanto isso, o pastor Ross tenta fazer outra sessão espírita desta vez na presença da senhora McCllellan e desta vez, Dorothy assume a personalidade do rapaz que xingou Jane de vadia anteriormente e a psiquiatra chega bem no ato levando a menina sob custódia.
Jane leva Dorothy até uma cela da delegacia onde a menina assume a personalidade de um adolescente chamado Kurt que diz sentir as dores da hospedeira no lugar dela para que ela não sofra e se preserve.
A psiquiatra então, tenta conseguir alguma informação sobre a bebê dos Kearsley e o rapaz menciona Duncan, o líder do trio de adolescentes e que é justamente o boca suja que xingou e ameaçou Jane.
Depois da crise, Dorothy é sedada e levada para casa.
Colin aconselha Jane a pegar a próxima balsa para fora da ilha mas a profissional se nega.
Mais tarde, Dorothy assume a personalidade de Mary e sai para beber com Jake Fallon além de iniciar um amasso que a garota interrompe humilhando o rapaz que a empurra fazendo-a bater a cabeça e voltar ao seu eu original no meio do breu sendo abandonada.
Em choque, Dorothy caminha até o penhasco pedindo à Deus para perdoa-la e ameaça se jogar.
Jane recebe uma ligação de Kurt dizendo que Dorothy tentou se matar e a psiquiatra vai até o penhasco para resgatar a garota que ainda é Kurt e nisso, aparece Eileen para levar a menina embora e ameaça Jane de ter drogado sua protegida.
Dorothy acorda em prantos em sua casa se dizendo uma aberração e Jane tenta acalmá-la dizendo que a menina criou aqueles personagens que ela assume e que eles a estão protegendo para que ela não se mate e que um deles foi o responsável pela asfixia à bebê dos Kearsley.
Duncan assume Dorothy e admite ter agredido a bebê e pede à Jane para ver o último desenho que a hospedeira fez e é nada menos que uma representação de David, filho da psiquiatra morrendo afogado.
David assume Dorothy e começa a torturar Jane psicologicamente dizendo que a água está muito fria e que ele está se afogando.
Jane tranca Dorothy e vai até seu quarto na pensão em prantos. Ela acaba vendo o fantasma personificado de David no meio de uma chuva do lado de fora mas ao sair para encontra-lo, ele desaparece e reaparece sentado na cama da mãe que pede desculpas à ele por não tê-lo cuidado.
Na manhã seguinte, Jane acorda sozinha e vai até o quarto ao lado do seu onde a velha cega toca guitarra e diz que o instrumento pertencia ao seu neto que morreu há alguns anos e se chamava Duncan!
A velha que é mãe da senhor McCllellan diz que Duncan morreu num acidente de carro dirigindo bêbado ao lado de dois amigos, justamente Mary e Kurt o que se confirma quando Jane confere uma manchete de um jornal da época.
Atordoada, Jane vai até a delegacia falar com Colin que Dorothy não criou personagens e sim que ela recebe espíritos mas o xerife é cético e volta a aconselhar a amiga à ir embora da ilha por achar que ela está em perigo.
Jane se nega e acredita que os populares estão escondendo algo sobre a morte dos jovens e sua ligação com Dorothy o que Colin deixa implícito que sim e a convida para dormir em sua casa onde ficará mais tranquila e segura.
Enquanto vela o sono de Jane, Colin ouve um ruído vindo do lado de fora e encontra seu cachorro brutalmente assassinado além de ouvir a voz de Duncan caçoando do xerife enquanto foge.
Horas depois, Jane acorda e deixa um bilhete avisando que irá até a casa de Dorothy para cuidar dela. Assim que chega, Jane diz à Eileen que levará Dorothy consigo para tratá-la na cidade grande para poder redimi-la da culpa pelo ataque à bebê.
Enquanto Jane prepara Dorothy para ir embora, a menina tem um sangramento nasal e uma crise de pânico dizendo ter medo de se lembrar o que aconteceu na noite em que tomava conta do bebê dos Kearsley.
Jane então faz uma hipnose regressiva na garota e quando Dorothy entra em transe, ela se vê no necrotério com a tia da menina Mimi que prepara os corpos de Duncan, Kurt e Mary para o sepultamento e a senhora pede à sobrinha que é vista sob o ponto de vista de Dorothy para que dê um beijo de despedida nos mortos.
Depois que Dorothy volta a si, Jane a faz dormir.
Enquanto isso, Colin recebe Dorothy possuída por Mary e Duncan simultaneamente e o líder da gangue diz que é hora da vingança e nisso se ouve um tiro.
Um tempo depois, os populares se aglomeram na casa de Colin e Jane chega logo depois encontrando o amigo morto com um tiro na cabeça e Dorothy assustada com a roupa coberta de sangue.
Geral resolve punir Dorothy por assassinato e Duncan a possuí se apresentando e pedindo que geral o siga até a ponte que leva até o mar e diz ter atacado a bebê dos Kearsley para e vingar do pai Aiden pelo que ele fez à Mary.
Temos um flashback do festival da ilha onde Mary é assediada por John MacCarthy, Paul Fallon e também Aiden que a levam até um lugar privativo onde começam uma sessão de estupro.
Duncan e Kurt chegam bem na hora e fazem um dos abusadores como refém ameaçando matá-lo se não soltarem Mary e assim o fazem. Em seguida, os jovens fogem de carro até a ponte que corta o penhasco e Aiden e os outros os seguem e ao alcançar o veículo dos jovens os empurra para o mar matando-os na hora.
No presente, os populares veem uma projeção da cena do acidente em tempo real e Aiden tenta barganhar pelo abafamento do caso para manter a paz na ilha, pois se o caso repercutir com a imprensa vinda de fora o lugar jamais será o mesmo (tal como possivelmente fizeram com a morte dos jovens alegando que eles estavam bêbados?).
Aiden inda pondera que o mais conveniente é matar Dorothy como única testemunha de tudo e Jane tenta intervir, mas é empurrada batendo a cabeça numa pedra desfalecendo.
Na cena seguinte, o pastor Ross faz uma assembleia e resolve banir Aiden, seus amigos criminosos e suas famílias da ilha e que ainda suas casas sejam destruídas e qualquer vestígio de suas existências sejam apagados para perpetuar a imagem da ilha como um lugar tranquilo e intocado pelos de fora.
Um corpo é jogado ao mar e Ross instrui à todos a dizerem para qualquer um que perguntar que Jane foi embora da ilha e ninguém sabe mais nada sobre o paradeiro dela.
Voltamos ao hospital psiquiátrico do início do filme e fica claro que aquela o tempo todo era Dorothy possuída por Jane que até aquele momento não sabia que ela havia morrido. O espírito da psiquiatra pede ao seu psiquiatra que cuide de Dorothy e esta desperta dizendo que a amiga está com seu filho David agora e que Duncan, Kurt e Mary já não a habitam mais pois já resolveram sua pendência e que portanto ela está completamente livre para viver sozinha...
O filme é uma grande incógnita e ainda conseguiu deixar algumas coisas quase que totalmente implícitas como por exemplo qual a importância da menina Mimi, como ela morreu, por que não se sabe nada sobre ela além do que já vimos em tela; eu não creio que ela foi apenas uma personagem criada para encher linguiça.
Outra coisa que o filme não deixa 100% explícito é se Jane morreu já na chegada da ilha (o que faria mais sentido) e que por isso ela possuía Dorothy o tempo todo sem saber de nada e os espíritos se confrontavam simultaneamente ou se a psicóloga morreu mesmo quando bateu a cabeça na pedra.
Ao meu ver, aquela foi na verdade Dorothy que estava sobrecarregada e o que me faz crer é aquela cena com Jake Fallon onde a menina volta a si quando cai e bate a cabeça. E que o corpo jogado no mar dentro de um saco era o de Colin para esconder o último de um assassinato na ilha e o que me faz pensar como eu já disse lá em cima, que as mortes de Duncan e os outros foram adulteradas pelos próprios executores tanto para fugir da culpa quanto para que a ilha se mantivesse em paz.
O ritmo do filme é até bem ok e a trama consegue se segurar trazendo um plot twist em cima de outro plot twist de uma forma muito criativa, mas ainda faltou um desenvolvimento um pouco maior acerca dos verdadeiros vilões que na maior parte da história são apenas personagens genéricos que só servem para ficar jogando a culpa de tudo da forasteira e fomentar o mistério.
A atuação de Jenn Murray como Dorothy é bacana e trouxe várias camadas à personagem conseguindo fazer ela passar de uma possível possuída por espíritos malignos à vítima completa de todas as acusações. Suas caras e bocas enquanto incorpora cada uma das personalidades é muito boa, uma pena o filme não ter sobrevivido bem aos anos seguintes, pois é um dos bons.
A carga psicológica e a construção da personagem de Jane apesar de genérica é bem feita trazendo ótimas cenas e um desfecho simplesmente imprevisível.
Eu digo com segurança que a introdução de Jane à ilha pegou um pouco da fonte de O parque macabro de 1962 com uma pitada generosa de o Homem de palha de 1973 quase passando por um folk de tão bem montado e estruturado. Vale muito a pena resgatar esta pérola esquecida no churrasco.
Trailer:
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