Finalizando nosso mês da ficção científica eu trago um dos grandes marcos dos anos 1980, a versão completamente reformulada do clássico A mosca da cabeça branca de 1958 que por sua vez foi uma adaptação do romance The Fly de George Langelaan.
Pelas hábeis mãos de David Cronenberg, a adaptação oitentista se destacou pelo terror corporal e pela mudança do roteiro original, trazendo uma narrativa que respeitava a espinha dorsal do romance original, mas que recontou de forma mais expressiva toda a história, remontando tudo e deixando apenas o experimento central e suas consequências intacto.
Enquanto que na primeira versão tínhamos um cientista casado, bem sucedido e famoso, no remake nós temos um outro cientista totalmente a contraparte, sendo um cara totalmente anti social, solitário, de vida simples que dedica a vida a sua maior obra, o que acaba igualmente a versão anterior dando errado e custando caro do início até o fatídico final.
Contextualizado o plot principal, vamos ao enredo que por si só vai explicar o por que de eu não ter criado um contraponto entre as duas versões do romance quando eu postei a resenha de A mosca da cabeça branca, já que cada obra merecia seu devido espaço e relevância.
Tudo começa nos dias atuais (os anos 1980 no caso) e somos levados a uma convenção da comunidade científica onde conhecemos o cientista promissor Seth Brundle que dá uma entrevista exclusiva á repórter Verônica Quaife exaltando sua nova criação que ele promete revolucionar a ciência da qual ele convida a moça para conhecer em seu laboratório.
Chegando ao local de trabalho, Seth mostra á convidada um par de capsulas que servem como portal de teletransporte de matéria de uma para a outra e o jovem homem da ciência dá uma prova de seu experimento teleportando uma meia.
Verônica animada, tenta gravar toda a conversa para a revista onde ela trabalha, porém Seth não dá mais informações sobre o projeto apesar de também não fazer nada para impedi-la de coletar material.
Seth acompanha Verônica até a revista onde é recebido por Stathis Borans, ex-amante da repórter que anteriormente havia duvidado do experimento do teletransporte e que agora demonstra total interesse no furo exclusivo de reportagem.
Numa lanchonete, Seth tenta convencer Verônica a não deixar o experimento vazar na imprensa antes dele completar cada etapa, uma vez que as capsulas apenas estão em fase de testes.
A dupla firma um trato de confidencialidade e Verônica passa a filmar todo o desenvolvimento dos experimentos a partir de uma tentativa de teleportar um babuíno que acaba dando errado, uma vez que o primata não consegue se rematerializar corretamente o processo, chegando na capsula número dois como um pedaço de carne deformada, o que frustra Seth.
A relação de Seth e verônica acaba se estreitando a ponto dos dois se tornarem amantes e irem para a cama com certa rapidez.
Na manhã seguinte, Seth experimenta teletransportar um bife que aparentemente chega a outra capsula intacto, porém o gosto ainda não atingiu o ponto certo tornando a carne como um pedaço de alimento sintético por conta dos cálculos imprecisos do computador que não consegue reconhecer e tão pouco rematerializar texturas.
Mais tarde, verônica encontra Borans em uma loja de roupas e revivendo seu passado amoroso eles acabam tendo uma forte discussão.
Dias depois, Seth faz outro teste com outro babuíno que desta vez é teletransportado com sucesso o que pode abrir brecha para novas possibilidades.l
Em outro momento, Verônica descobre que Borans está usurpando seus créditos pela reportagem do experimento de Seth com o intuito de manipula-la para que volte a ser sua amante, o que rapidamente vai parar nos ouvidos do cientista.
Sem tempo para perder com o assunto, Seth resolve fazer o último experimento teletransportando ele mesmo, o que ele faz, porém sem perceber, uma mosca entra junto com o cientista em uma das câmaras e o teletransporte aparentemente dá certo, já que Seth chega ao outro lado ileso.
Nesse meio tempo, Verônica volta para a casa de Seth que a interroga sobre Borans, mas no final tudo acaba em cama.
Na manhã seguinte, Seth percebe que seus reflexos estão aguçados e que a elasticidade de seu corpo aumentou dando-lhe a disposição de um ginasta olímpico. Além disso, o jovem se torna compulsivo por açúcar e mentalmente frenético e ansioso. Além de tudo isso, estranhos folículos começam a crescer nas costas de Seth.
Verônica começa a desconfiar que algo deu errado durante o teletransporte, mas Seth só se importa com seu futuro científico.
Farto dos comentários de Verônica, Seth sai para caminhar até chegar a um bar barra pesada onde aposta uma prostituta numa queda de braço que ele não só vence como ainda rompe a munheca e ainda rasga a pele expondo os ossos torcidos.
Depois da vitória, Seth leva a dama da noite, que chama Tawny até sua casa onde mostra o processo do teletransporte em si mesmo e na sequencia os dois transam. Logo depois, Seth tenta obrigar Tawny a ser teletransportada, mas Verônica chega no momento certo pondo a prima para ir embora.
Verônica discute com Seth insistindo que ele mudou, mas ele a tacha de ciumenta e a expulsa de casa.
Seth percebe que seu dente e unha estão caindo repentinamente, além do fato de um de seus dedos estar expelindo uma espécie de gosma verde, o que o faz pensar que ele está morrendo, dando início a um intenso estudo.
Ao analisar o histórico dos teletransportes, Seth descobre finalmente a mosca que invadiu uma das capsulas e que durante o processo, os dois tiveram seu DNA fundidos.
Desesperado, Seth telefona para Verônica pedindo para ela ir vê-lo e a repórter encontra o amante em processo acelerado de mutação, o que dá embasamento para ela acreditar na história da mosca.
Seth mostra á Verônica o quão seu corpo está se deteriorando por conta da dominância do DNA da mosca ao expelir uma gosma verde pela boca além do fato que uma das suas orelhas descola.
Dias depois, Seth desenvolve a habilidade de andar pelo teto e com a ajuda de Verônica e o aval de Borans, dá-se início ao registro em vídeo da mutação começando pelo seu novo método de alimentação que é de coisas moles por conta da deterioração de seu tubo digestivo que não o permite digerir nada sólido pois provoca dores insuportáveis no corpo.
O tempo passa e Verônica acaba tendo um pesadelo onde ela está em trabalho de parto dando vida a uma larva de mosca gigante.
Com o avanço da mutação de Seth, seu computador já não reconhece mais seus comandos de vos, além do fato de todos seus dentes terem caído.
Verônica visita Seth que conta á ela que a mutação está tão avançada que a qualquer momento ele irá perder a consciência e poderá atacá-la por instinto. Este fato faz com que Verônica que de fato está grávida opte por um aborto para evitar uma abominação já que quando ela e Seth transaram ele já estava fundido com a Mosca e seu DNA mutante poderia afetar a criança.
Borans acompanha a ex-amante até uma clínica de aborto, mas Seth descobre e a rapta e longe de lá, o cientista mutante implora que a amante não mate o bebê pois ele representa o que lhe resta de humanidade.
Chegando ao laboratório, Borans invade o local armado com uma espingarda. Antes que pudesse destruir as capsulas, Borans é atacado por Seth com uma gosma de suco gástrico que corrói a mão do ex-amante de Verônica deixando só o toco.
Depois, Seth derrete um dos pés de Borans até Verônica tentar impedi-lo.
Enlouquecido, Seth ordena que Verônica entre em uma das capsulas para se fundir com ele e o bebê para criar a família perfeita e nisso, a repórter rasga o rosto do cientista fazendo-o passar por uma troca de exibindo um rosto de mosca humanoide asqueroso.
Seth a joga na capsula e inicia o contador indo para a outra capsula enquanto Borans aproveita para acertar um disparo nos cabos de força abortando a contagem.
A capsula de Seth entra em curto circuito e o traga enquanto Borans arrasta Verônica para fora da outra capsula.
Seth volta do teletransporte todo retorcido e fundido aos cabos de energia do teletransportador se arrastando até Borans.
Em seu último momento de humanidade, Seth aponta a arma de Verônica em sua própria testa deixando claro que ela precisa mata-lo e relutante, a amante atira dando fim à Seth, pondo-se a chorar.
É impossível deixar de mencionar a qualidade absurda da maquiagem e de todo o efeito prático envolvendo o protagonista e o capricho como a produção executou cada etapa de deterioração de Seth levando o público a mais total repula e nojo.
De longe um dos filmes que mais usou e abusou da trasheira, o que garantiu ao filme um Oscar pela maquiagem além de outros prêmios e indicações como melhor ator pelo trabalho perfeito de Jeff Goldblun no papel de Seth que conseguiu trazer imersão e profundidade ao personagem, o melhor de filme de terror segundo o prêmio Saturno, uma organização que premia filmes de terror e de ficção científica nos EUA, a indicação de Geena Davis como melhor atriz pelo papel da Verônica e óbvio, a indicação de David Cronenberg como melhor diretor.
Em 1989 A mosca ganhou uma sequencia muito mal criticada que trouxe o filho de Verônica e Seth como protagonista, onde ele é explorado por uma companhia cientifica por ele ter nascido com uma mutação consequência da fusão dos DNAs mutante e humano. A continuação é ignorada pela maioria que o consideram desnecessário e muito ruim já que não conta com Cronenberg e ainda destoa da qualidade gráfica que o clássico de 1986 esbanja.
O filme nos surpreende durante o decorrer da trama trazendo uma inversão de papeis entre Seth que despontou como mocinho e Borans que no início demonstrava-se ser um déspota insuportável que agia movido pelos próprios interesses. No final Borans se redime e se mostra racional salvando Verônica enquanto Seth perde cada vez mais de sua personalidade se tornando um convencido e arrogante. É simplesmente uma convergência de personalidades que movimentou bem a trama no ato final.
Trailer: