Quanto mais eu cavo mais eu encontro obras obscuras de qualidade que me prendem cerca de uma hora e meia na frente da televisão, mesmo sendo produções baratas e de certa forma datada.
É o caso de Olhos de fogo do início dos anos 1980, escrito e dirigido por Avery Crounse e produzido por Philip J. Spinelli e é um folk bastante competente que nos leva a época dos colonos norte americanos em meio a uma comunidade ultra conservadora que tenta executar na forca seu pregador que rompe com as regras do lugar ao ter um caso com duas mulheres.
Salvo por seus seguidores, o pregador foge com suas mulheres e com seus fiéis numa balsa rumo a uma nova colônia onde eles poderão recomeçar do zero, porém ao adentrarem nas entranhas de uma reserva indígena, o grupo passa a ser perseguido por uma entidade demoníaca que se alimenta de dor e de sangue de pessoas e animais inocentes trazendo a discórdia entre os viajantes.
Existe também uma subtrama com a amante louca do pregador que tem estranhos poderes e o dom da visão, além de um passado nebuloso sobre sua real origem.
Mas vamos á trama antes que eu me alongue demais...
Tudo começa em 1750 na fronteira americana na época em que os Estados Unidos ainda era uma colônia dependente da Inglaterra.
Numa cabana humilde, um oficial do exército francês encontra uma jovem e duas meninas pequenas desacompanhadas. A jovem é Fanny Dalton e as pequenas são Meg e Cathleen Buchanan que ao serem interrogadas relatam quase terem sido mortas por uma bruxa da floresta se não fosse a intervenção de uma amiga delas considerada uma feiticeira chamada Leah. Com o ceticismo, o militar pede que a mais velha conte toda a história de como elas vieram parar na habitação e onde estão seus pais.
Segundo Fanny, tudo começou na colônia de Dalton's Ferry enquanto seu pai Marion estava fora caçando comida e acabou não mais voltado á colônia. Sua mãe, Eloise cansada de esperar pelo seu retorno acabou indo morar com um homem chamado Will Smythe, o pregador local que por sua vez já tinha um caso com uma jovem chamada Leah que tem problemas mentais, o que significa que o rapaz era bígamo.
A comunidade descobriu cedo o adultério de Will e ainda mais cedo, o conselho local puniu o pregador queimando sua cabana e ainda o sentenciaram a pena de morte na forca. A execução tem início sem perda de tempo e Leah que ainda sente algo por Will, conjura em voz baixa algum tipo de feitiço que faz com que a viga do celeiro onde a corda da forca estava amarrada fosse atingida por um raio.
Com a ajuda de seus seguidores que rendem os execultores, Will rouba uma balsa, animais e provisões e leva consigo Leah, as Dalton e seus fieis que são formados pelos anciãos Sister e seu marido Calvin juntamente de sua netinha Meg e o casal Buchanan formado por Jewell e Margareth e sua filha única Catheleen. O grupo parte vagando rio acima com destino a terra prometida como assegurado por Will, um lugar onde eles poderão recomeçar uma nova comunidade próspera.
Depois de um tempo à deriva, o grupo desembarca na reserva dos índios Shawnee, que recebe os forasteiros á flechas e com balas matando Calvin no processo assim como Leah previu a instantes atrás.
Passada a confusão, o grupo retoma o caminho por terra se embrenhando pela floresta sem desconfiarem que há um estranho os stalkeando. Sem muito tempo para descansar, o grupo logo percebe a presença do estranho que revela-se Marion, pai de Fanny que se tornou conhecedor do idioma Shawnee e por isso, acaba se tornando mediador de um tratado de não hostilidade aos nativos que chegam logo na sequencia, porém não se chega a um acordo dando início a um breve tiroteio.
Marion despeja seu bom humor sobre os nativos e acaba sugerindo ao grupo montar acampamento em um vilarejo próximo que está abandonado do qual os nativos morrem de medo. Seguido, nós temos uma lavagem de roupa suja entre a família Dalton e o grupo logo volta a caminhar até chegarem a um local abandonado onde pernoitam em cabanas igualmente abandonadas.
Envolta de uma fogueira, Marion conta a história de um demônio oriundo da terra no qual os nativos creem, e que se alimenta do sangue e da dor dos animais inocentes e mortos.
Na manhã seguinte, o grupo volta a caminhar até montarem um acampamento e Fanny aproveita para pedir ao pai que tenha uma conversa com sua mãe e é o que ele faz dizendo á Marion que se ela continuar com Smythe, geral vai comer terra pela raiz.
Meg e Cathleen encontram uma pequena nativa abandonada e Smythe resolve acolhe-la e batiza-la, porém Leah tem uma visão com uma personificação demoníaca da pequena indiazinha.
Pouco tempo depois, o grupo começa a arar a terra e Sister tem uma alucinação com uma entidade escondida debaixo da terra que lhe leva o gorro e quando a anciã conta o que viu, geral acha que ela está simplesmente surtando.
Algumas poucas horas se passam e algumas anotações encontradas dentro de uma das cabanas por onde o grupo passou são reveladas e descobre-se que quem os escreveu foi alguém que passou pela moradia anteriormente e que testemunhou várias mortes ocasionadas por um demônio que vive nas árvores dando início a uma divergência de opinião entre todos.
À noite, Leah tem uma visão com o suposto demônio das árvores e Fanny vestida com roupas brancas em seus braços ela balbucia á jovem palavras num idioma desconhecido.
Marion sugere á Jewell que ele pegue sua família e partam com ele e Fanny na manhã seguinte para longe de Smythe, porém o rapaz se recusa.
Um tempo depois, Marion encontra Fanny desacordada no bosque e a leva sem ter nenhuma resposta de como ou quando ela foi parar lá.
Na sequencia, a narração segue pelas palavras de Cathleen que diz que Leah é uma fada irlandesa com o poder de manipular as flores e que ela contou para Marion o segredo das árvores. Marion, longe do acampamento e sozinho, aplica vários golpes de machado em uma árvore suspeita e o impacto é sentido por Fanny que ainda está desacordada. Um tempo depois Fanny desperta e apresenta uma melhora significativa e ela diz que Leah e ela encontraram a pequena nativa coberta por uma meleca preta barrenta e que a pequena se tornou uma entidade maligna da floresta durante sua fuga e que em off vemos que ela despertou outros seres como ela oriundos das árvores: ela é o famoso demônio.
Depois disso, Fanny foi de alguma forma assimilada por uma das árvores até ser devolvida e encontrada por Marion.
Amanhecendo, Smythe encontra seus livros anteriormente roubados pelos índios agora destruídos e as páginas espalhadas por todo canto.
Paralelamente, Meg ouve uma voz ao longe a chamando e ela se guia pelo som que pertence ao demônio da floresta que volta a tomar a forma da indiazinha, até chegar a uma árvore da qual a menina abraça.
Geral se mobiliza para procurar Meg e Sister a encontra amarrada de cabeça para baixo pelos pés na mesma árvore que ela abraçou. Neste momento, temos um vislumbre de instantes atrás onde Meg fora assimilada pela árvore antes de ser encontrada naquela situação. Enquanto que longe de la, Marion acerta vários golpes na árvore onde a alma de Meg foi assimilada a libertando e vê muito de perto o demônio das árvores.
Um vento forte começa a soprar na direção de Marion que está sozinho e logo volta para o grupo alegando ter visto o demônio e roga para que acreditem nele e deixem o bosque sem perda de tempo.
Enquanto isso, Margareth tem uma discussão com Smythe por ter emprestado á indiazinha um vestido de Catheleen sem sua permissão. A menina por sua vez é intimidada pela indiazinha que a faz se afastar do acampamento no meio de um toró e acaba vendo as entidades criadas pelo demônio das árvores, porém Leah a encontra e a leva de volta ao acampamento.
Sister tem outro surto chamando Smythe de demônio e este tenta reconquistar a confiança de Jewell pouco mais tarde, até que ambos veem um vulto passar pelo bosque e o jovem amigo do pregador desfere um tiro em direção ao vulto encontrando sua vaca morta na sequencia. Inesperadamente, Jewell é acertado por um dardo.
Em pânico, Smythe revela á Jewell que ele foi quem tentou acender a fogueira que queimou a mãe de Leah até a morte e que ela era na verdade é uma bruxa assim como a filha que ele salvou, coisa que agora ele se arrepende sem perceber que a louca ouviu tudo.
Sucedida a uma confusão, raios desferidos do céu provocam focos e incêndio no acampamento e nisso, Sister se entrega aos demônios das árvores se juntando a eles.
Leah tenta levar Meg e Cathleen consigo e nisso, e em paralelo, a indiazinha mostra sua verdadeira face de demônio perante a Marion e foge dele, porém leva um tiro ao longe explodindo e levando consigo os espíritos das árvores.
Marion pega Fanny e Meg e foge do acampamento deixando os outros para trás se embrenhando no bosque enquanto entidades demoníacas nascem da terra. Os Três se protegem trepando em árvores, porém as entidades iniciam uma abdução tragando Marion para dentro do pântano.
Leah observa o nascimento de outras entidades enquanto Smythe tenta acalmar Jewell e Margareth, enquanto Fanny que regressou relata tudo o que ela viu, agora que ela se lembra o que aconteceu pouco antes do desmaio. Posteriormente, Jewell acaba morrendo.
O grupo remanescente desfaz o acampamento e iniciam uma evasão enquanto Leah tenta impedir o despertar dos demônios do pântano que são nada menos que os espíritos dos mortos, como por exemplo, Sister.
Smythe acaba perecendo pela loucura e pela solidão já que todos o deixaram para seguir Marion, enquanto Fanny que encontrou Meg leva ela e Cathleen consigo. Em paralelo, Leah invoca Marion que se tornou um espírito das árvores e este está prestes a despertar. A bruxa pede ao pai de Fanny que fuja de sua prisão anres que ele se torne um espírito por completo e salve as meninas. Neste instante, Louise e Margareth guiam as crianças até a balsa dando início a fuga.
Depois que Marion consegue se libertar, Leah absorve a energia vital do demônio da árvore causando uma explosão que acaba neutralizando os demônios renascidos.
Louise vê Marion chegar ao longe e ao perceber que ele voltou a ser humano o beija arrependida.
Voltamos ao presente onde Fanny termina seu relato ao oficial do exército francês que incrédulo, pede a um soldado que leve as meninas para o acampamento e nisso, vemos no mesmo soldado, um brilho demoníaco em seus olhos, o que indica fortemente que ele é uma entidade controlada por Leah que ainda está viva em algum lugar...
Me surpreende saber que um filme tão obscuros tem mais dados que muito cult por aí. Estima-se que o orçamento tenha sido de pouco mais de dois milhões e meio e a bilheteria rendeu doze milhões, o que não é mau mas também não caracteriza a obra como um sucesso estrondoso.
Os efeitos especiais eu tenho que reconhecer que em sua maioria estão datados, porém os práticos e sobretudo a maquiagem estão de parabéns, são muito bem feitos para uma produção barata. Outro acerto foi o figurino e a ambientação que complementam a obra.
A atmosfera constante de mistério e de medo ajuda muito na narrativa. O filme não para um minuto de nos presentear de momentos tensos e imprevisíveis, o visual do demônio das árvores que eu entendi como sendo uma bruxa é ameaçador além de nojento e que com certeza deve ter tirado noites de sono na época em que o filme foi rodado.
Infelizmente não tem nenhum nome realmente muito conhecido seja dentro do elenco ou no resto da produção do filme, então eu nem me dei ao luxo de pesquisar muito a fundo, por isso, fica a cargo de quem se interessar ir atrás caso tenha curtido a produção. Eu mesmo gostei bastante da montagem, de toda essa mitologia da floresta e do ritmo frenético do roteiro. Vale conhecer essa obra obscura.
Trailer:
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