Aí está um slasher competente e deveras esquecido nos dias de hoje apesar dos defeitos como: sua precariedade orçamentária e de ser uma produção genérica que apenas surfou na onda do subgênero que estava fazendo sucesso entre os adolescentes.
Trazendo um enredo manjado, porém envolvente e cheio de identidade própria, a obra de 1989 chega a ser bem interessante como passatempo e percebe-se pela montagem que este filme bebeu muito da fonte dos principais slasher para moldar suas características, mas me ganhou pela premissa e pela atmosfera de mistério e incerteza que ronda o segundo arco que é o da pós passagem de tempo.
Ainda sim, o filme consegue ser diferente e atrativo com um enredo que conta tudo mastigadinho como surgiu o antagonista e suas motivações sempre bem detalhado já no primeiro ato, coisa que muito raramente se via neste nicho e quando tinha era em alguma sequencia tardia o que para mim conta muito para uma construção de narrativa coesa.
Presentes conta a história de infância sofrida do menino John Radley, que foi abandonado muito cedo pelo pai e acabou sendo criado pela mãe megera que o negligencia sem filtros. Não bastasse isso, ainda sofre bullying nas mãos de colegas de escola e vizinhos, conquistando a empatia apenas de sua vizinha, a pequena Gretchen, com quem sempre brinca.
Como desgraça pouca é bobagem, John ficou com uma sequela pelo trauma do abandono: ele não fala uma palavra desde então e ainda por cima tem a estranha mania de torturar e matar animais pequenos.
Certo dia, durante uma jogatina de damas com Gretchen, John é perseguido por seus haters até um parque campal onde as provocações continuam frente a um poço artesiano seco. Os garotos então, desafiam John a andar sobre as beiradas do poço. Intimidado ele cede e acaba caindo de um altura considerável. Assustados, todos menos Gretchen fogem e fingem que não sabem de nada.
Dez anos depois, John agora adulto, internado numa clínica psiquiátrica passa por um tratamento de sedação. Por todo esse tempo ele se manteve catatônico e horrivelmente deformado pelas feridas que a queda proporcionou.
O médico responsável, deixa uma enfermeira tomando conta de John para cuidar de outro paciente. O médico acaba demorando muito e o efeito do sedativo passa fazendo John despertar furioso, fazendo da enfermeira sua primeira vítima fatal antes de escapulir do estabelecimento.
Gretchen agora uma mulher, se despede dos pais que resolveram viajar por duas semanas, assim como os de sua melhor amiga Kacy.
Aproveitando que a casa é toda dela, convida Kacy e seus respectivos namorados para passar a noite com elas vendo um filme de terror e comendo pizzas.
Mais cedo, um dos vizinhos de Gretchen e coincidentemente um dos garotos que provocaram o acidente de John na infância, resolve botar o lixo para fora, porém o saco se rasga, fazendo-o ir até o porão procurar um rastelo e outro saco plástico. Lá, na penumbra, Jhon, escondido acerta o rapaz e o amarra numa plataforma. Ao acordar ele é amordaçado e assassinado friamente.
Naquela mesma tarde, antes da noitada, Gretchen chega do colégio e é recebida pelo seu cão de estimação Bud, que sem ela perceber foge com um pedaço de dedo humano decepado. Gretchen porém, encontra um pequeno rastro de sangue e acredita que Bud matou (mais uma vez) algum animalzinho pequeno.
Durante a noitada, depois de um certo atraso, as pizzas chegam com um gosto diferente do usual.
Gretchen, mais tarde encontra o dedo decepado e desconfia que o recheio da pizza seja proveniente de carne humana, contactando no ato o roliço xerife Chism, que dadas as circunstâncias afirma que Gretchen e a amiga podem estar sendo vítimas de algum trote, porém manterá as duas sobre vigia enquanto investiga mais a fundo.
John por sua vez continua fazendo mais vítimas pela vizinhança, os mesmos jovens que quando crianças abusaram de sua fragilidade.
Ao abrir o jornal matutino para ler as manchetes, Gretchen encontra embrulhado, um pedaço de nariz decepado nadando em sangue. Chocada, ela telefona para o xerife que ordena que ela e a amiga permaneçam em casa a sete chaves numa tentativa de não preocupá-las, pois no fundo ele sabe que o responsável pela chacina é John Radley a resolve fechar o cerco sobre ele, mandando o investigador fazer uma ronda no cemitério local, junto de seu desajeitado assistente que encontram o túmulo da mãe de John destruído e a sepultura profanada recentemente.
O investigador, tem um encontro cara a cara com John e numa tentativa de ganha-lo através do apelo emocional acaba sendo brutalmente assassinado.
John continua perambulando pela cidade noite a fora, enquanto os pais de Gretchen tentam dar um telefonema direto do aeroporto, porém a filha desliga na cara deles, e liga diretamente para a telefonista aflita, pois sentiu alguém se aproximando. Infelizmente as linhas estão todas ocupadas e quando uma fica vaga, o telefone é cortado por fora.
Gretchen resolve fugir de casa após encontra Kacy morta. Ao invadir a casa de uma vizinha para pedir ajuda, a proprietária do local também é encontrada degolada para o desespero da garota. Ela então corre para a rua com uma arma que encontrou e se encontra finalmente com John, alvejando-o. Porém, as sequelas deixadas pelo acidente o fizeram imune a dor.
John se levanta e continua perseguindo-a, até que Gretchen encontra o xerife Chism, que armado com um rifle atira várias outras vezes conseguindo que finalmente John tombe proferindo a primeira palavra desde o trauma: amor. Gretchen então respira aliviada sobre o amparo do xerife, pois sabe que John agora descansa em paz finalmente.
Presentes é um filme cheio de clichês (e de surpresas) pois tem uma notória semelhança narrativa a primeira versão de Halloween, tanto pelo formato que trouxe um antagonista que persegue a mocinha de forma furtiva, tanto pelo fato que o assassino segue buscando sua vingança de forma pitoresca e ainda por cima enviando secretamente oferendas (como no título original) de amor para a crush de infância.
A trilha sonora de Russell D. Allen conta com ótimos temas instrumentais de gelar a espinha e o tema principal sobre tudo, lembra muito o tema principal do primeiro Halloween, além de que o próprio antagonista tem uma aparência similar a de Michael Myers por seu semblante pálido e inexpressivo que diferente do serial killer de Haddonfield não usa máscara, além de sua resistência que o tornou quase indestrutível como é visto no embate final onde ele sobrevive a vários disparos de revólver.
Não tinha como esperar que a face deformada de John tivesse um capricho na área de maquiagem e isso é bastante visível quando o antagonista se mostra frente a câmera pela primeira vez ostentando uma camada exagerada de pele falsa por cima da verdadeira para simular a deformidade e mais visível ainda é que dá para ver a profundidade da maquiagem por cima do rosto, o que fica claro que aquilo é um pedaço de máscara. Mas não devemos esquecer que os recursos para esta produção B eram escassos e mesmo não tendo acesso a um valor exato de orçamento fica muito na cara que Presentes saiu a um preço de uma coxinha e uma Coca cola.
Outro fato que torna o filme mais barato que uma rapidinha na rua Augusta é que Christopher Reynolds ficou responsável por basicamente tudo na produção: ele escreveu, dirigiu, produziu e ainda por cima editou a porra toda muito provavelmente sobre efeito de algum entorpecente muito forte, por que o cara foi simplesmente brabo.
Além de que os efeitos práticos do filme são bem a quem do esperado até mesmo para a época em que foi rodado, como por exemplo as partes decepadas de corpos que vira e mexe aparecem pela casa de Gretchen como aquele horrível nariz que notoriamente é um pedaço de látex mal recortado com cara de que foi feito às pressas.
As cenas de morte por outro lado, até que foram bem montadas e convencem exibindo uma violência gráfica satisfatória apesar de boa parte das cenas em questão acontecerem fora do nosso campo de visão o que se sugere que a produção estaria se atentando as regulamentações de censuras impostas pelos órgãos da época.
A trama por sua vez, é lenta em alguns momentos e a cinematografia de Reb Braddock é um tanto quanto escura na reta final, o que incomoda um pouco apesar da ideia de imersividade que o momento tenta fazer passar, mas isso não é nada que venha a prejudicar a experiência de quem assiste.
Presentes é um slasher oitentista que fez bem seu papel e merece ser bem assistido apesar de não ter entrado para o hall dos memoráveis e hoje ele é só esquecido e raro, o que é uma pena. Só vale mesmo pelo entretenimento, não estou dizendo que a obra é uma bosta, ao contrário, trama é agradável e sim consegue segurar a atenção até o final.
Trailer:
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