Há tempos eu venho esperando o momento para lançar uma resenha não só sobre o filme mais polêmico de 1997, mas também aproveito pra fazer um contra ponto da versão Hollywoodiana produzida dez anos depois e herdando o mesmo diretor, Michael Haneke, o que proporcionou que a readaptação não fosse uma perda total de tempo como muitas.
O filme em questão está na cara que é Violência gratuita ou no original Funny games, que numa tradução aproximada seria Jogos divertidos, o que contrasta perfeitamente com a proposta do longa metragem originalmente austríaco, mas que o título BR desta vez fez bem mais jus ao conteúdo e o deixou mais atrativo como raramente é feito.
Agora falando do filme em questão, ele é um thriller que trás uma dupla de adolescentes bem afeiçoados que resolvem atormentar a vida de um casal e seu filho pequeno de férias em um condomínio aberto de alto padrão, mas não apenas por pura diversão, mas também pelo prazer do sofrimento e da tortura tanto física quanto psicológica.
Eles promovem altos jogos angustiantes que promovem todo tipo de dor das vítimas apenas para preencher o vazio de suas existências, como o líder da dupla menciona em um dado momento do filme.
O filme abre com uma visão aérea de uma rodovia campal nos confins dos Judas onde vemos um carro com um barco engatado percorrendo a estrada enquanto os ocupantes estão ouvindo música música clássica, nos deixando claro que aquelas pessoas são absurdamente ricas.
As pessoas em questão são três: o casal Schoelver formado por Georg e Anna e o filho deles Schorshi, que para facilitar a minha vida enquanto eu digito, chamaremos de Georginho, o que é deveras justo.
Após um tempo jogando um jogo de adivinhe o cantor, a família finalmente chega às dependências do condomínio que eles pretendem ficar durantes as férias e sua primeira parada é na frente do portão da residência de seus vizinhos para combinar uma ajudinha para descarregar o barco no lago.
Na sequencia, os Schoelver chegam finalmente à sua residência onde começam a descarregar as compras para o jantar e alguns minutos mais tarde, chega ao lugar o jovem Peter, filho do vizinho de antes e seu amigo Paul que vieram para ajudar com o barco.
Mais tarde, depois que a embarcação é posta e amarada no cais da residência, reaparece na porta de serviço pedindo para que Anna lhe empreste alguns ovos em nome de uma vizinha e quando o rapaz se vai, ele acaba derrubando acidentalmente, obrigando a dona da casa a limpar a sujeira.
Anna consegue outros ovos para Peter que já está incomodando após mais um de seus acidentes ocasionar o estrago do celular da mulher que cai na água da pia.
Na saída, Peter e seu amigo Paul que o esperava são intimidados por Rolfi, o cachorro da família que segundo os jovens, fez com que Peter se assustasse e deixasse os novos ovos caírem. Paul se encanta com o jogo de tacos de golfe de Georg e se auto oferece para testa-los na varanda.
Rolfi começa a ter uma crise de latidos o que incomoda Georg que resolve ir ver o que acontece enquanto Anna tenta de todas as formas fazer os garotos irem embora e Paul insiste que é obrigação da mulher restituir os ovos que foram quebrados por intervenção do cachorro. Georg tenta intervir e acaba tendo a perna quebrada com um golpe de taco e Georginho quase é agredido ao tentar ajudar o pai em desvantagem.
Depois que os ânimos se acalmam, os garotos torturam a família psicologicamente e Paul obriga Anna a jogar quente ou frio para que ela procure a prenda que é Rolfi e depois de ser orientada, a mulher encontra o animal dentro do carro covardemente morto.
Neste momento, chegam à bordo de um barco os vizinhos Robert, Gerda e a cunhada da mulher que buscam Georg para um programa entre amigos, e Anna mente dizendo que o marido sofreu um acidente e distendeu um músculo, deixando-o de cama portanto e com isso, a visita se vai.
De volta para dentro de casa, os rapazes muito cinicamente se oferecem para prestar os primeiros socorros à Georg e o deitam em um sofá, mas depois viram o jogo impondo a sua superioridade enquanto agridem os Schoelver covardemente.
Depois que se acalma, Paul faz um exposed da família de Peter revelando que ele é gay, seus irmãos são drogados assim como ele, seus pais estão divorciados e para fechar com chave de merda, a mãe do obeso é uma puta e transa até mesmo com o próprio filho. Paul ainda justifica seus atos dizendo que ambos tem dependência de drogas e que roubam residências de alto padrão para sustentarem-se.
Paul faz uma aposta de que antes de vinte e quatro horas a família estará morta. Depois, o rapaz ordena à Anna que cozinhe para eles e depois enfia uma fronha na cabeça de Georginho para que ele fique vendado enquanto a mãe faz strip para geral. Como Anna se nega, Paul persuadis Georg a obrigar a mulher a se despir em troca da segurança do filho e com lágrimas nos olhos ela o faz.
Depois de constatar que Anna não tem nenhuma gordura, Paul ordena que a mulher volte a se vestir e pede que Peter leva Georginho para o banheiro, pois a criança se urinou, mas na primeira oportunidade o menino foge e evade da residência através de uma janela enquanto seus pais são espancados. Por fim, Anna é presa ao sofá com silver tape.
Longe de lá, Georginho toca a campainha de um dos vizinhos esperando obter alguma ajuda e como ninguém responde, ele cruza o lago à nado e se esconde.
Enquanto Paul procura por Georginho, Peter toma conta dos reféns e por um cavilo quase permite que Anna fuja.
Em paralelo, já de volta à casa, Georginho tira seu macacão molhado e seus tênis para esconder os respingos de água que ele deixou pelo assoalho e que poderiam denuncia-lo.
O menino avista um rifle junto ao chão próximo dele, mas recua ao ver o corpo de uma conhecida sem vida no chão. Ele logo retorna, pega o rifle e se esconde no breu, porém Paul o encontra e fica em sua mira, porém caçoa do menino dizendo que ele não tem balas.
Minutos depois, Enquanto Paul faz um lanche na cozinha, ouve-se um disparo e a cena corta diretamente para a televisão ligada e coberta de sangue que respingou aos montes na parede. A câmera abre aos poucos e vemos Georginho jogado no chão com um rombo no peito, morto e vertendo muito sangue enquanto Anna em choque por uns bons minutos se recusa a olhar e tudo silencia.
Finalmente tendo digerido o que ocorreu, Anna vai até a televisão para desliga-la com certa dificuldade e percebe que os garotos foram embora. Ela vai até a cozinha para pegar uma faca e se soltar enquanto Georg ainda em choque tenta por alguns minutos de silêncio reagir à morte do filho e logo o faz chorando e soluçando em desespero sendo amparado por Anna que retorna já solta.
Consternados, o casal tenta uma fuga pela janela, visto que a porta principal está trancada. Georg pede que a mulher fuja sozinha para que ele não a atrapalhe devido a sua falta de mobilidade para que ela peça ajuda enquanto ele ficará bem escondido.
Anna se lembra de seu celular e resolve secar a bateria com um secador, porém como o processo vai demorar, Georg se incumbe de faze-lo enquanto a mulher volta ao plano de fuga.
A mulher então o faz e passa pelo portão de entrada ao romper as grades de proteção e sem perda de tempo vai até a residência mais próxima para pedir ajuda enquanto Georg consegue restabelecer o celular e liga para Robert, porém o sinal acaba caindo e a ligação é interrompida.
Em paralelo, Anna caminha pelo breu sem saber para onde ir até avistar os faróis de um carro ao longe.
Na residência, Georg ouve um ruído de bola de golfe quicando no chão denunciando Paul que chega com Anna amarrada e amordaçada. Depois, o rapaz retira a mordaça da mulher e anuncia um novo jogo desta vez de vida ou morte que consiste em fazer a mulher de Goerg escolher entre um tiro e uma facada enquanto o marido é espancado sem piedade.
Paul ordena à Anna que escolha uma oração para pedir pelo descanso de sua alma e num momento de pressão, a mulher consegue tomar o rifle de Peter e o alveja mortalmente. Em pânico, Paul procura pelo controle remoto e ao encontra-lo, faz a cena rebobinar até o momento que ele ordena à Anna que escolha uma oração e bem neste momento, ele a impede de pegar o rifle evitando a morte do parceiro.
Como Anna perdeu o jogo, Georg é executado com um tiro.
Na manhã seguinte, os garotos levam a última sobrevivente como refém em seu barco, amarrada e amordaçada. Lá, ela percebe uma faca escondida no forro da embarcação e tenta se libertar das amarras, mas é descoberta.
Paul anuncia o fim dos jogos com a derrota de Anna e a joga para a morte no lago. Depois, ele disserta com Peter sobre realidade e ficção retornando à terra firme logo em seguida.
O rapaz então, vai até a casa de uma outra vizinha, que é nada menos que Gerda para pedir-lhe alguns ovos emprestados em nome de Anna. O rapaz se vira para a câmera quebrando a quarta parede e solta um sorriso sínico e uma piscadela, nos tornando cúmplices de mais um jogo...
Começando pela versão original, ela realmente é bem pesada, porém na grande maioria das vezes a violência é mais psicológica do que física. Aliás, por várias ocasiões, a violência gráfica é executada fora da tela e a gente só ouve os gritos e os ruídos que são muito bem produzidos, e a atuação do elenco de vítimas é perfeita.
Quem se sobressaiu com toda a certeza foi Arno Frisch (de O vídeo de Benny) no papel de Paul. Ele conseguiu entregar uma performance convincente que mete medo no telespectador apenas com o olhar sínico e macabro, além de dar um show em seus momentos de quebra da quarta parede e de suas filosofagens, um personagem realmente muito bem desenvolvido que merecia ter tido uma segunda chance em algum spin-off ou algo assim.
O filme tem ótimos enquadramentos de câmera desde o início que dão uma identidade própria à obra e estas foram repetidas meticulosamente no remake de 2007.
Falando do remake, ele é basicamente um ctrl+ c / Ctrl+v do original, porém como já dito, ele tem o mesmo diretor que cuidou com todo carinho para que fosse mantida toda a essência do original, como as jogadas de câmera que são iguaizinhas as da versão de 1997. No entanto a violência gráfica foi atenuada e isso se percebe pela cena da televisão ensanguentada, na versão americana o sangue e muito raso e a parede mal tem respingos, fora que a câmera fez de tudo para não focar no corpo do personagem que nesta versão se chama Georgie.
Aliás, se tratando de nomes, quase todo mundo manteve os originais com excessão de Gerna que se tornou Betsy e a família de George passou a ter o sobrenome Farber.
O único rosto realmente conhecido do remake, pelo menos para mim é o de Naomi Wattz no papel de Anna. Wattz tem no currículo, no quesito terror, o também remake Boa noite, mamãe! no qual ela interpreta a personagem título, além do thriller psicológico Refém do medo de 2016 e Colheita maldita 4.
A readaptação é boa também mas não tem a mesma magia do original apesar de bem produzida e dirigida. Ela não é odiada ao contrário da versão noventista de Psicose, mas também não é memorável e muitas vezes descartável quando se fala na obra de 1997.
No mais, as duas versões valem muito a pena serem vistas, elas tem seu charme individual e conseguem chamar a atenção da mesma forma, então eu recomendo ambas.
Trailer (Versão de 1997):
Trailer (Versão de 2007):
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