Hoje é um daqueles raros casos em que eu faço um contra ponto entre duas ou mais versões de um clássico do cinema do terror e desta vez eu escolhi uma adaptação de uma pérola da literatura assinada por H. G. Wells produzida em três ocasiões diferentes com alterações entre uma narrativa e outra.
A obra original conta a história de um naufrago que vai parar em uma ilha nos mares do sul onde vive um geneticista ambicioso que cria espécies híbridas de humanos com genes animais. O que se estende é um tour pela ilha que esconde segredos e muita loucura que a humanidade duvida.
A primeira versão do conto literário ocorreu em 1932 produzido pela Paramount Pictures e dirigida por Erle C. Kenton que entre seus trabalhos mais conhecidos estão sequencias B de Frankenstein como O fantasma de Frankenstein e A casa de Frankenstein, além de alguns longa metragens da dupla Abbott e Costello.
Tudo começa com o resgate de um náufrago que é posto à bordo do SS Covena mental e fisicamente debilitado.
O jovem que atende por Edward Parker pede ao seu benfeitor Montgomery para mandar uma mensagem para sua mulher Ruth Thomas que está no litoral de Apia, capital da Samoa aguardando notícias de sua chegada.
Dias depois no porto de Apia, é divulgada a lista de desaparecidos do navio onde Edward estava e neste mesmo instante, Ruth recebe a mensagem do marido bem a tempo.
Enquanto isso, Edward dá uma volta no convés do Covena com Montgomery onde descobre uma carga de animais enjaulados que estão sendo transportados para a ilha particular de um tal doutor Moreau ao sul. Lá, Edward também conhece o desagradável capitão Davis que espanca sem razão aparente um dos criados que é bem estranho, mas ele também leva a sua sendo nocauteado pelo náufrago que ao socorrer o criado percebe que ele tem orelhas pontudas e estranhamente peludas.
Com a chegada do barco enviado por Moreau, Edward é jogado por Davis para fora do Covena como vingança não e tendo alternativa o jovem segue com Montgomery e seus criados estranhos e peludos.
Em questão de horas, o barco chega até o cais da ilha de Moreau e o próprio pede discrição ao forasteiro acerca de tudo que ele verá em sua propriedade.
Ao chegar até a mansão de Moreau, Edward percebe que os nativos também são muito estranhos e de hábitos selvagens.
Depois de uma breve jogatina, Moreau e Montgomery deixam Edward em uma sala enquanto balbuciam sobre apresentar ao hóspede uma mulher da Polinésia chamada Lota que é a única mulher da ilha.
O intuito de Moreau é testar se Lota consegue seduzir Edward e ele deixa o casal a sós mas fica de olho neles. Neste mesmo instante, Montgomery que usa um jaleco e máscara cirúrgica aparece solicitando com urgência a atenção do doutor.
Edward e Lota ouvem gritos de dor e ao tentar verificar de onde vem eles são proibidos por Moreau de prosseguir escondendo um experimento desumano com um dos nativos.
Em pânico, Edward toma Lota e corre com ela pela ilha chegando até uma colônia de homens híbridos com feição de animais e Moreau chega no mesmo instante.
O doutor, pede ao líder dos mutantes que ele recite as leis que o próprio cientista estabeleceu que são: não andar sobre quatro patas, não derramar sangue e não se alimentar com carne e dispersa geral para ter uma particular com Edward que tira satisfações.
O cientista explica que há anos ele faz experimentos de alteração mutagênica fundindo DNA tendo começado com orquídeas quando ele vivia na Inglaterra. Seus experimentos no entanto, passaram dos limites que a ética científica permitia que foi quando ele resolveu estudar o genoma humano e isso fez com que ele fosse perseguido e cassado, precisando fugir da Europa com Montgomery.
Em suma, os estudos de Moreau focavam na mutação humana com genes animais, por isso que todos seus criados tem aparências estranhas e explica também a colônia de homens feras, todos são resultados fracassados das experiências.
Na manhã seguinte, quando se prepara para tomar um barco para Apia, Edward percebe que a embarcação está destruída.
Enquanto isso em Apia, Ruth vai ao porto à espera do amado e ao descobrir que Edward não está à bordo do SS Covena ela denuncia o capitão com a ajuda do cônsul e este convoca a ajuda do capitão Donahue para pegar o primeiro barco em busca do náufrago.
Na ilha, Edward lê um livro para se distrair e diz à Lota que a leitura o leva para fora daquele inferno e a nativa toma o livro da mão do jovem e o joga numa fonte.
Edward se empolga e acaba a beijando e ao abraça-la percebe que suas unhas são garras afiadas e animalescas e tira satisfação com Moreau que revela que a jovem é uma de suas mutações. Fulo, Edward exige que o cientista o tire da ilha o quanto antes ou sofrerá as consequências.
Moreau tira satisfações com Lota descobrindo que sua mutação está se revertendo, ou seja, ela está se tornando fera, o que o faz se auto motivar a trabalhar para torna-la completamente humana.
Horas depois de uma longa viagem ao mar, Ruth e o capitão Donahue chegam à ilha de Moreau através de um gruta despertando a atenção dos mutantes que os flagram.
Moreau toma conhecimento da chegada dos viajantes e os convida muito cordialmente para entrar em sua residência oferecendo-lhes bebida e insiste aos convidados que fiquem para o jantar e que partam ao amanhecer apesar da pressa de Edwarde em voltar para a civilização.
Depois do jantar geral é instalado em seus quartos e enquanto todos dormes, Ouran, um dos mutantes tenta romper as grades da janela do quarto de Ruth, mas a moça acorda e seus gritos chamam a atenção de Edward que dispara em direção ao invasor que corre.
Geral se mobiliza para fugir e Moreau ordena á Ouran que siga Donahue que partiu na frente para recolher a âncora de seu barco e ele acaba matando o capitão enquanto Montgomery farto de ser pau mandado muda de lado para sair da ilha junto ao casal.
Ouran leva o corpo de Donahue até a colônia onde o líder e seus irmãos o acusam de ter violado a lei de não derramar sangue e o mutante é linchado.
Os mutantes subjugam Moreau por ter dado a ordem à Ouran e iniciam uma revolta invadindo as terras do cientista que sem medo vai até sua criações e os obriga a recitar a lei, porém o líder diz que já não há mais lei pois ela foi violada iniciando um ataque.
Moreau tenta conter suas crias com um chicote mas recua conforma a invasão se intensifica.
Do outro lado, Ouran tenta impedir a fuga de Edward, Ruth e Montgomery, mas Lota o segura e luta contra ele. O grito da jovem é ouvido de longe pelo trio de fugitivos que retornam encontrando Ouran morto e Lota agonizando e esta pede à Edward que volte para o mar morrendo.
Enquanto isso, os mutantes em fúria encurralam Moreau no laboratório iniciando um incêndio que destrói tudo e leva a vida do cientista juntamente. Ao longe, o trio avista a residência em chamas e Montgomery diz ao casal para não olhar para trás...
O filme é simples obviamente se tratando de uma obra dos anos 1930 quando o cinema da era de ouro estava decolando mas assim mesmo o conteúdo é forte o suficiente para surpreender por todo conjunto da obra: as atuações que estão dignas, a maquiagem que está ok para a época, a ambientação que está razoável e a direção competente.
No elenco, o único nome de destaque da época é Béla Lugosi que interpretou o líder dos mutantes e pregador das leis de Moreau, conhecido por dar via a versão mais icônica do conde Drácula e também Charles Laughton, interprete do doutor Moreau que em 1939 emocionou ao dar vida a uma das encarnações mais dramáticas de Quasímodo na obra máxima de Victor Hugo, O corcunda de Notre Dame. Todos os dois mandaram bem na obra de 1932 trazendo o mais puro terror que a obra poderia trazer na época.
Temos também a não menos especial Leila Hyams que no mesmo ano interpretou a personagem Vênus em Freaks - Monstros. Do mesmo filme, está creditada a participação da um dos astros dos circos de aberrações Schlitzie, uma criatura com microcefalia e deficiência cognitiva que muito provavelmente interpretou um dos mutantes.
No mais, o filme é uma obrigação para quem quer conhecer uma das melhores versões da obra de H. G. Wells se equiparando a de 1977 que eu já vou resenhar, então senta que a viagem continua...
E agora partimos para a versão de 1977 dirigido pelo premiado cineasta Don Taylor que colecionou em seu currículo obras como Damien: A Profecia II, Fuga do planeta dos macacos e Inferno número 17, uma excelente escolha para uma adaptação complicada de se levar para às telonas e telinhas.
Quarenta e cinco anos depois da primeira adaptação realmente relevante, agora sim com mais recursos foi produzida uma obra que captou o jeito H. G. Wells de mesclar terror com ficção científica e é considerada por muitos como a melhor versão cinematográfica do autor, incluindo este que vos fala.
Com mais liberdade criativa, produção elevou o drama e deu mais relevância ao mocinho sem deixar de lado o antagonismo do cientista que dá nome ao filme que segue sendo vil e completamente sem coração, além de perturbar o espectador com o drama dos mutantes animalescos que agora tem uma personalidade mais cativante e expressiva.
Mas vamos ao que importa, o início de tudo...
O filme começa no meio do oceano com um trio de náufragos em um bote exaustos por ficaram à deriva sabe-se lá por quanto tempo. O calor, o cansaço e a falta de recursos faz com que o trio se torne apenas uma dupla com o falecimento de um dos náufragos que é jogado ao mar.
Os dois que restam que atendem por Johnny e Andrew Braddock encontram uma ilha próxima ao chegar em terra firme. Andrew que está mais disposto procura por algum sinal de vida sozinho enquanto o amigo descansa tempo apenas para ser abduzido por uma criatura misteriosa.
Depois de andar alguns metros, Andrew encontra uma enorme colônia onde desmaia acordando algumas horas depois aos cuidados de um homem chamado Montgomery que diz estar às ordens de um homem chamado doutor Moreau que é o dono da propriedade há vários anos.
Restabelecido, Andrew se vê livre para explorar o enorme complexo e acaba conhecendo pelo caminho a jovem Maria, protegida de Moreau que a cuida como se a levasse dentro de um potinho para todo lado.
Andrew se interessa emocionalmente por Maria que é evasiva às suas perguntas assim como Montgomery que não deixa o recém chegado se aprofundar sobre a vida animal da ilha.
À noite, depois de uma investida em Maria, Andrew ouve o grunhido insistente de um animal mas ignora e vai ao escritório do doutor Moreau para buscar informações sobre ele e o mesmo aparece no mesmo momento dando uma amostra de sua formação acadêmica como cientista.
Moreau mostra frascos com embriões de animais e um de humano conservados que são objetos de sua pesquisa não dando maiores detalhes sobre do que se trata.
Na manhã seguinte, Andrew avalia os estragos de seu bote quando vê Maria dando uma volta com um filhote de leopardo que se desgarra fazendo a bela jovem correr atrás do animalzinho. Andrew vai atrás da moça e acaba chegando à beira de um riacho onde vê M'Ling, um dos criados de Moreau bebendo água direto da fonte e logo depois reencontra Maria com o filhote.
No início da noite, Andrew vai até a cabana de Montgomery para perguntar por que M'Ling bebia água do riacho feito um animal e o criado diz ser um costume local.
No dia seguinte, Andrew acorda com Moreau e Montgomery trazendo M'Ling acorrentado, porém agora o criado havia passado por algum tipo de mutação que o tornou um híbrido de homem com animal. Moreau diz ao hospede que M'Ling é uma espécie humana especial que ele está tentando ajudar.
Mais tarde, Andrew vai até a praia para trazer seu bote para terra onde o amarra em uma árvore e ao retornar para a colônia, ele ouve um grunhido próximo fazendo-o correr. Andrew se sente cercado por três criaturas animalescas e no meio da correria encontra Moreau que pede ao rapaz que volte para sua casa enquanto ele vê o que está acontecendo pela floresta.
Ao voltar para a propriedade de Moreau, Andrew entra numa cabana secreta onde tem várias jaulas com animais selvagens presos como felinos, um urso e até mesmo uma hiena. Mais além, ele encontra um laboratório onde tem um homem com garras animalescas inerte debaixo de um pano. Ao descobri-lo descobre a feição meio homem meio urso do falecido ao mesmo tempo que Moreau chega.
O cientista revela ter desenvolvido um soro à base de DNA animal, neste caso um urso no qual ele faz experimentos mutagênicos em pessoas que ele acolhe tornando-os híbridos com a finalidade de trazer à tona uma nova e perfeita espécie.
Aturdido, Andrew vai embora para sua cabana onde encontra Maria que o seduz até que os dois fazem amor sendo vigiados do lado de fora por Moreau.
Na manhã seguinte, Andrew encontra novas criadas de Moreau que também foram expostas ao soro e se tornaram híbridas. Revoltado, o rapaz vai até Moreau tirar satisfações e o cientista lhe mostra outro homem fera que interage com um urso de forma irracional levando chicotadas por sua falha, pois ele não recobrou sua consciência humana depois da exposição ao soro.
Andrew sai de lá, pega um rifle e caminha até chegar a uma caverna onde encontra um grupo de mutantes: um homem javali, um homem leão, um homem tigre, um homem touro, um homem hiena além do líder deles que é conhecido como o pregador das leis, leis estas que o próprio Moreau decretou.
Moreau aparece no mesmo instante fazendo o Pregador recitar as leis de obediência que inferiorizam os mutantes, sua forma de viver e até mesmo sua forma de caminhar além do castigo para quem viola-las.
De volta à colônia, Andrew tenta fazer Moreau reconsiderar suas atitudes desumanas e o cientistas diz não considerar os direitos dos mutantes pois eles já não são mais humanos e sim criaturas renascidas a partir da mutagênese.
Pouco depois, Moreau e Montgomery levam o mais novo mutante até a caverna para que passe pela iniciação que consiste em ser aceito pelos outros ou ser devorado por eles.
Mais tarde, Andrew faz reparos em seu bote e convida Maria para ir com ele viver na civilização, porém a jovem é arredia alegando que tudo aquilo que seus pés tocam é o que ela conhece do mundo pois ela vive lá desde sempre.
Longe dali, o Homem touro sai da caverna e é atacado por um tigre chamando a atenção de geral que vai ao seu auxílio e ao chegarem ao local do ataque encontram o animal morto a beira de um lago.
Moreau vai até a caverna horas depois para fazer o Pregador recitar as leis e diz que seu povo violou aquela que proíbe o derramamento de sangue se referindo ao tigre. Descoberto, o Homem tigre é perseguido por seus irmãos do lado de fora.
Andrew que estava junto e o Homem hiena encurralam o fugitivo que implora para ser morto de uma só vez sendo executado com um tiro.
À noite, os mutantes sepultam o amigo o atirando em chamas ao mar.
Farto de tudo, Andrew tenta ir embora da colônia na surdina porém é surpreendido por Moreau que o ceda e o prende em sua mesa de cirurgia. O objetivo do cientista, é fazer de Andrew sua nova cobaia e prontamente injeta uma dose de soro nele.
Em questão de horas, Andrew começa a passar pelo primeiro estágio da mutação entrando em pânico sendo sedado novamente.
Montgomery se volta contra Moreau acreditando ser a próxima cobaia se o experimento falhar com Andrew e o obriga sobre a mira de sua arma a dar a chaves de seu quarto, porém ao dar as costas é baleado e preso em uma jaula.
Horas depois que tudo se acalma, M'Ling tira Montgomery da jaula e em conluio com os outros mutantes o arrastam até os limites da colônia dando-o para uma das feras humanas.
Enquanto Moreau estuda a evolução de Andrew, o corpo de Montgomery chega ao Pregador que expõe a violação da lei de não matar iniciando uma revolta.
De volta ao laboratório, Moreau tenta fazer Andrew despertar seus instintos animais o obrigando a comer um rato mas o jovem resiste dizendo se lembrar de quem ele é e de sua vida humana na civilização.
Os mutantes invadem a colônia e ao se dar conta do sumiço do corpo de Montgomery, Moreau se arma.
Maria alerta Andrew sobre a morte de Montgomery, a revolta dos mutantes e ele pede à amada que o ajude a se soltar.
Moreau vai até os mutantes e exige o corpo de Montgomery, mas o Pregador diz que o mestre violou a lei de não matar e que portanto tem que ser castigado gerando um ataque e uma perseguição. O cientista é atacado e dilacerado.
Nisso, o Pregador realiza que ele e seus homens violaram a lei de não derramamento de sangue e que eles precisam arcar com as consequências pois são homens.
Andrew tenta conter os mutantes que não o aceitam como um deles apesar de ter sido exposto ao soro e vão embora.
Em seu último suspiro, Moreau diz à Andrew que ele é um animal. O rapaz então, gritam para os mutantes que eles não mataram Moreau e expõe o cientista amarrado numa tentativa de engana-los.
Na sequencia, Andrew foge com Maria e M'Ling enquanto o Pregador descobre que Moreau está de verdade morto gerando uma revolta geral e a destruição do laboratório que é sucedida por um incêndio que força os mutantes a libertar os animais das jaulas.
Mutantes e animais se estranham e entram num confronto em meio ao caos terminando com várias baixas como a do Pregador que morre.
Durante a fuga,M'Ling é atacado e morto por um dos animais e com a perda do aliado, Andrew leva Maria até seu bote se pondo ao mar. No entanto, o Homem urso o agarra tentando afoga-lo mas Maria o acerta com um dos remos o fazendo cair. Atento, Andrew espera pelo bote do inimigo e no momento propício o empala no olho com o cabo do remo.
A cabana de Moreau desaba em chamas assim como seu corpo suspenso.
Um tempo depois de se lançar ao mar, Andrew acorda de um cochilo e percebe que sua mutação foi revertida já que estava apenas no início do processo ao mesmo tempo que aparecem dois barcos ao longe para a alegria do jovem que tenta sinalizar para as embarcações.
Esta versão contou com o protagonismo do saudoso Burt Lancaster, consagrado por obras como O rochedo de Gibraltar, A um passo da eternidade, Julgamento em Nuremberg, Campo dos sonhos e muito mais.
A maquiagem desta obra está muito bem feita e a ambientação é divina, tudo na maior simplicidade e muito bem dirigido.
A carga de terror e de drama são equivalentes trazendo o puro suco dos anos 1970, porém a obra está um bocado esquecida talvez por conta da caótica versão a seguir, a de 1996 que acabou meio que amaldiçoando a reputação de um dos maiores trunfos de H. G. Wells, o que é uma pena pois a história é muito boa, criativa e merecia uma nova chance nos cinemas com toda pompa e circunstância.
Finalmente chegamos a versão definitiva da adaptação mais emblemática de H. G Wells, a caótica versão de 1996 que jamais deveria ter existido e foi alvo de diversas críticas além dos bastidores cheios de problemas que mais tarde já vamos falar sobre.
O filme foi orçamentado em 40 milhões de dólares e só captou 49 sendo distribuído pela gabaritada New Line Cinema e dirigido por John Frankenheimer que apesar do vasto currículo não tem muitos trabalhos realmente expressivos sendo o mais conhecido Ronin de 1998, além do próprio A ilha do dr Moreau.
O filme em questão contou com nomes grandes de Hollywood mas não alcançou nem de longe a grandeza da obra original, que nos leva ao náufrago que chega a uma ilha onde tem um cientista mal intencionado que brinca de ser Deus usando seres humanos como cobaias em um experimento de fusão de genes acabando por criar seres mutantes meio homens e meio animais.
Mas vamos ao que importa primeiramente que é o resumo e eu garanto que esta adaptação difere muito da de 1977 e choca mas não pelos motivos que deveria, então só aguardem...
Tudo com três homens à deriva no oceano em um minúsculo bote inflável num embate mortal até sobrar vivo apenas um que atende pelo nome de Edward Douglas que vaga exausto até ser resgatado por um navio por um sujeito chamado Montgomery.
Perto de chegar em uma ilha, Montigomery convida o exausto viajante para embarcar com ele para que possa usar o rádio comunicador para pedir ajuda.
Em terra, a dupla se dirige até uma vasta colônia pertencente a um homem chamado doutor Moreau que é um geneticista ganhador de um prêmio Nobel e foi dado como desaparecido da civilização há vários anos.
Ao chegar ao grande casarão principal onde vive o dono da ilha, o tal doutor, Edward faz um tour pelo local até conhecer a exótica Aissa que vive na ilha desde pequena tendo como tutor ninguém menos que Moreau.
Montgomery regressa de sua cabana e diz para Edward que Moreau vive na ilha há dezessete anos e que desde então se dedica obsessivamente aos estudos da vida animal e que por conta de suas pesquisas incompreendidas acabou sendo perseguido e cassado pelo conselho de ética e por isso fugiu e se isolou.
Depois de guiar Edward até os aposentos onde ele vai ficar, Montgomery o tranca temporariamente alegando ser pela segurança do rapaz e a noite ele é liberado para poder continuar explorando a colônia e depois de andar por um tempo chega à um laboratório com animais selvagens enjaulados e onde o hóspede presencia o parto de uma mulher com feições bestiais que faz correr sendo flagrado por outra dupla de mutantes meio animais.
No meio da fuga, Edward topa com Aissa que oferece a saída da ilha em troca que o rapaz não diga nada do que viu para ninguém. Durante a fuga pela selva, a dupla encontra outro ser meio homem e meio fera chamado Lo-Mai bebendo água do rio de quatro e ao voltar a correr, a dupla encontra um outro mutante que lhes oferecem abrigo em sua própria colônia de mutantes liderados pelo Pregador das leis que é uma fera meio cabra que é cego.
Neste momento, chega a colônia dos homens feras o tal doutor Moreau que é um homem de sobrepeso, careca e sensível ao sol o obrigando a usar uma camada enorme de creme pelo corpo, um par de óculos escuros e um véu envolta da cabeça escoltado por Montigomery.
Moreau faz o Pregador recitar as principais leis que ele mesmo estabeleceu para a convivência dos mutantes: não andar em quatro patas, não derramar sangue e não comer carne e alega que uma desta leis foram violadas por um dos mutantes selvagens, coisa que o líder desdém humildemente.
As feras se agitam e Moreau oferece uma arma para que Edward afaste os mutantes enfurecidos porém ele se nega e volta para a colônia do cientista.
Horas depois, Moreau apresenta para Edward seus filhos de consideração, homens feras domesticados que atendem por: M'Ling, Azazello e Waggdi, além de um sujeitinho minúsculo que se veste igual ao cientista tamanha a devoção que tem por ele, que não fala e se chama Majali.
O cientista reconhece sem nenhuma cerimônia que aqueles são o resultado de anos de pesquisa de combinação de genes humanos com os de animais cujo objetivo é atingir o equilíbrio perfeito, o híbrido superior separando a maldade da raça humana e sobrepujando com a pureza dos animais.
Mais tarde, Edward bisbilhota o barco de Montgomery e encontra um macaquinho em fúria enjaulado e é atacado por ratos que o arremessam para fora da embarcação.
Na manhã seguinte, Moreau vai à colônia dos mutantes e comunica que a lei de não derramar sangue foi violada pois chegou a ele uma carcaça de um coelho desaparecido do laboratório totalmente destroçado jogando sangue fresco no riacho. A culpa é atribuída à Lo-Mai que tenta atacar o cientista, porém é detido por algo que o faz se retorcer como se estivesse sendo eletrocutado (um chip implantado nele e nas outras feras como medida de obediência e segurança que é acionada através de uma espécie de colar com várias contas cada qual para um dos mutantes).
Sem poder se defender, Lo-Mai é executado com um tiro por Waggadi e incinerado um tempo depois levantando a ira de Edward e a dor da hiena Swine ao ver os restos do crânio do amigo. Swine percebe que há um mecanismo conectado ao forro do crânio: é o implante do chip da obediência.
Compreendendo o que o faz sentir dor e aos seus irmãos, Swine com muito esforço retira o seu implante.
Mais tarde, Edward acompanha Montgomery em uma sessão de injeção de endorfina e outros hormônios nos mutantes. No meio da sessão, Montgomery encontra a resistência de Swine e ao perceber que o mutante retirou seu implante resolve se armar por precaução.
Em outro momento, Montgomery flagra M'Ling ajudando Edward com o comunicador já que ele aprendeu a lidar com o instrumento e leva o hóspede para uma particular para dizer que Aissa é diferente, percebendo seu interesse na moça e completa dizendo que ela jamais sairá da ilha.
Aissa vai até Moreau para dizer que ela está sofrendo uma mutação e mostra-lhe seus dentes que se tornaram presas afiadas.
Enquanto isso, Swine e alguns de seus aliados invadem a sala do piano de Moreau e o cientista tenta acalma-los com música enquanto Majali procura pelo colar de contas. A hiena questiona Moreau o por que dele ser diferente do humano que ele e os outros tem como um pai.
De posse do colar, Moreau tenta conter os mutantes que não sentem mais os efeitos do choque ficando claro que eles retiraram seus implantes. Swine dita as novas leis favorecendo seu povo e o cientista tenta contra atacar batendo em Swine com um crânio de enfeite o que faz com que geral se revolte e o ataque sem piedade o dilacerando cruelmente.
Edward aparece no mesmo momento fazendo as feras dispersarem com disparos.
Mais tarde, os restos de Moreau são incinerados sobre forte comoção e enquanto Montgomery toma posse do escritório do cientista, Azazello e os outros questionam o Pregador sobre qual lei seguir e o líder insiste naquela que Moreau os ensinou, pois trouxe paz e ordem até o momento.
Do outro lado, Edward descobre que Assai é uma mutante ao se dar conta que ela está passando pelo processo de mutação e a moça pede ajuda para reverter sua condição.
Sem perda de tempo, Edward vai até o escritório de Moreau para procurar alguma pista sobre a mutação e acaba ouvindo Montgomery pelo auto-falante enlouquecido e vestido como Moreau. Edward o cobre de tapas para faze-lo reagir e pede o soro de reversão da mutação que lhe é negado.
No porto, Swine e os outros espalham gasolina por toda ponte de acesso ao barco e o grupo é flagrado por Waggadi que barganha armas em troca da remoção de seu implante. Em seguida, os mutantes ateiam fogo à ponte dando início a uma explosão.
Em paralelo, Edward descobre algumas amostras de sangue dos homens feras e entre elas uma amostra sua e um estudo completo sobre a sua genética.
Enquanto isso, Montgomery toma posse do abrigo do Pregador completamente louco e é executado por Waggadi com um tiro e Swine inicia uma matança geral tomando a liderança de uma vez por todas.
De volta com Edward, ele diz à Assai que o doutor Moreau pretendia usar os genes dele para deter a mutação dela e a jovem desaba dos braços do amado.
Ao se dar conta que os rebeldes de Swine se aproximam, Edward e Assai libertam os animais enjaulados enquanto as feras arrombam o lugar com um veículo dando início a uma fuga enquanto o local pega fogo.
Swine destrói todo o estudo de Moreau com tiros enquanto os pombinhos chegam ao abrigo destruído do Pregador. Do nada, Waggadi surge do elevador e ordena um ataque à Edward e Assai que o ataca com seus instintos despertos dando início a um embate.
O Pregador e Edward são feitos reféns e o braço direito de Swine executa Waggadi com vários tiros.
Os mutantes que ainda tem implante são eletrocutados por Edward e Swine os executa sem piedade. Na sequencia, Swine tenta obrigar Edward a reconhece-lo como o senhor da ilha, mas o homem joga em sua cara que ele é uma fera e que ele violou as lei de não derramamento de sangue.
Um tiro teio se inicia com direito à granadas e nisso, Edward rende Swine com uma arma e os poucos seguidores do Pregador ainda vivos o lincham a ao seu único aliado. Acuado, Swine entra na casa em chamas de Moreau e morre queimado.
Na manhã seguinte com tudo calmo, Edward prepara uma jangada para voltar para a civilização e promete voltar com cientistas que possam desenvolver um soro de reversão, mas o Pregador se recusa dizendo que não quer mais cientistas na ilha e que ele e seus seguidores serão o que devem ser e que eles viverão livres.
Segue uma narração de Edward dizendo ter guardado sua experiência em anotações incluindo as coordenadas da ilha do doutor Moreau para quem quiser ver a verdade. Ele encerra dizendo que não há diferença entre os rebeldes de Swine e os seres humanos menos evoluídos, que ambos usam a violência para obter o poder e que isso lhe causa medo...
Como eu havia dito lá em cima, os bastidores da produção do filme foram catastróficas e estressantes. O elenco teve que lidar com a temperatura elevada, as péssimas condições de gravação com o comportamento tóxico de Val Kilmer (motivado por um divórcio recente), que deu vida à Montgomery numa atuação vergonhosa e totalmente porca.
Não bastasse isso, Marlon Brando, consagradíssimo ator da era de prata de Hollywood ainda teve que abandonar as gravações antes do esperado antecipando a morte de seu personagem menos emblemático e extremamente excêntrico, o doutor Moreau, por conta do falecimento de sua filha além do fato que ele teve diversas divergências com Val Kilmer com quem não batia de frente e com os outros membros do elenco em especial com os figurantes que sofreram com a caracterização pesadas de homens feras em meio ao calor tropical.
O filme recebeu diversas Framboesas de ouro e escrachou a fase de decadência na carreira de dois dos mais gabaritados atores de Hollywood na época, sequelas essas das quais nenhum dos dois jamais se livraram, um levando o desgosto para o túmulo, no caso Brando enquanto Kilmer passa sua vida reclusa há anos sem pisar num set de filmagem descente.
Não menos conhecido, temos a presença também de David Thewlis, o lendário Remulus Lupin da franquia Harry Potter e o Ares do universo de filmes da DC, no papel de Edward e este foi o que menos se destacou mas também não se meteu em encrenca direta com ninguém.
Temos também, Ron Perlman, o clássico Hellboy no papel do Pregador das leis, Marc Dacascos no tímido papel de Lo-Mai e o protagonista do filme B de terror italiano O rato humano Nelson de la Rosa no papel do simpático e esquisito Majai.
Agora sobre a parte técnica, o filme dá uma escorregada; os efeitos especiais são um nojo e já estão deveras datados, vide a cena do ataque dos ratos no barco de Montgomery, ratos esses feitos de CGI bem do sem vergonha. Por outro lado, a caracterização dos mutantes está bem ok e a ambientação exuberante da floresta tropical de Carns na Austrália é de encher os olhos, mas apenas para quem assiste o filme por que para quem participou ativamente foi um inferno escaldante.
No mais, o filme foi bem fraquinho e mal aproveitado para o orçamento que teve e em diversos momentos parecia mais um filme de guerra na pegada de Rambo ou Braddock do que terror e ficção científica propriamente dito, mas ao menos a trama foi frenética e não cansa em nenhum momento, só chateia mesmo.
Em 2004 ainda foi produzido um longa metragem deveras desconhecido com o nome de Dr. Moreau's house of pain do qual se tem quase nada de informação e que eu se quer consegui encontrar para baixar ou assistir diretamente, mas o pouco que eu vi pelo trailer que eu encontrei percebe-se que é uma produção de baixíssimo orçamento e que nada tem a ver com as adaptações até agora dissertadas, ou seja, é outra história totalmente diferente apenas com o nome da obra de H. G. Wells como chamariz.
Trailer (Versão de 1932):
Trailer (Versão de 1977):
Trailer (Versão de 1996):