Alimentado pelo clássico do final da década de 1960 assinado por George A. Romero, o nicho de terror de zumbis se tornou uma mania nas décadas a seguir trazendo todo nível de tranqueiras imagináveis.
E em 1985 em meio a um exaustivo exército de filmes de mortos vivos chega a obra que iria mudar tudo e definir várias regras do subgênero que são levadas a risca até hoje, como fato dos zumbis comerem cérebro e não partes de corpos com uma explicação bastante coesa, além de trazer o mais puro suco dos anos 1980 com figurino, cinematografia e trilha sonora que escracham a época em que foi rodado e que apesar de notoriamente datado, o longa ainda é primoroso e não perdeu um centímetro se quer do seu charme.
A premissa de A volta dos mortos vivos serve como uma extensão do clássico A noite dos mortos vivos de 1968 já que a obra está universalmente interligada e isso é explicado logo no início quando é revelado pelo gerente de um depósito de equipamentos médicos que ele tem em seu poder um tambor de experimentos militares mal sucedidos que causaram o despertar dos mortos numa cidadezinha interiorana onde uma tal de Barbara e um grupo refugiado em uma casa de campo lutaram contra uma horda de zumbis.
E é justamente o gás de um desses tambores que vaza e começa a causar uma reação parecida em um cemitério adjacente ao depósito trazendo um novo holocausto zumbi mas de forma bem humorada e satírica, mesclando de forma muito eficaz terror e humor sem ser propriamente dito um terrir, garantindo muita diversão, personagens carismáticos, uma trilha sonora de punk rock típica da época tudo isso resultando num status de cult.
Mas vamos ao enredo que é o que importa e nos leva ao mencionado galpão de Frank que instrui seu novo funcionário Freddy sobre o armazenamento de mercadorias e em meio as explicações sobre as obrigações do garoto, o velho fala sobre os acontecimentos reais em uma cidade do interior dos EUA sobre mortos vivos que deu origem ao filme A noite dos mortos vivos, veracidade que poucos sabem.
E essa verdade é que o exército fez um experimento borrifando um resíduo químico sobre o ar e este acabou chegando até as terras de um cemitério fazendo com que os mortos fossem reanimados dando início a um holocausto. Depois da história, Frank diz que alguns desses resíduos foram parar em suas mãos, lacrados em tambores e que além de disso, ele possui corpos antes reanimados presos em cápsulas e para comprovar convida Freddy para conhecer seu depósito secreto onde estão escondidos os objetos.
Horas depois somos apresentados à Tina, namorada de Freddy e a gangue punk a qual ela pertence cujo líder é Scuz e fazem parte Trash, Suicide, Spider, Chuck e Casey e o grupo sem ter nada melhor o que fazer resolve fazer o que os punks oitentistas faziam de melhor: aprontar no cemitério que fica próximo ao galpão de Frank, enquanto o jovem funcionário não encerra o expediente.
Após mostrar um dos tambores que acidentalmente é aberto, tanto Frank quanto Freddy inalam o gás e ficam inconscientes por algum tempo até acordarem nauseados e percebem que os corpos sumiram das cápsulas, mas o gerente contesta dizendo que o gás derreteu os cadáveres. Na sequencia, a dupla leva um tremendo susto com um cachorro empalhado cortado pela metade e vivo de alguma forma, muito provavelmente por entrar em contato com o gás reanimador e subsequente a isso ouvem-se gritos.
Freddy tenta convencer Frank a chamar a polícia mas o gerente se nega por medo de ter problemas com o exército o que poria em risco o galpão.
Anoitece e a gangue de Scuz dança no cemitério na maior tranquilidade sem suspeitar do que está acontecendo lá perto.
Burt, o dono do galpão chega ao local e toma ciência da situação declarando como certo o princípio de um apocalipse zumbi e que a única form a de reverter esta situação é estourando os miolos dos mortos vivos.
Nisso, um morto vivo pelado aparece do nada ataca Burt sendo contido por Frank e Freddy, enquanto o dono do local planta uma picareta na nuca do morto e depois serra a cabeça fora, porém o corpo sai andando obrigando os rapazes a amarra-lo. Como último recurso, Burt resolve levar os pedaços esquartejados até Ernie o embalsamador local para cremá-lo.
Enquanto isso, a gangue de Scuz se divide sendo que Stace e Chuck veem Freddy e os outros se dirigindo até o necrotério com um pacote.
Ao chegar finalmente até Ernie, Burt pede ao amigo para guardar segredo quanto ao pacote alegando ter atropelado um animal silvestre, porém o embalsamador se nega e o que resta é contar a verdade e mostrar o conteúdo: as partes do corpo recém esquartejadas. Um dos braços agarra Ernie Tina resolve ir ao depósito esperar Freddy sozinha por estar preocupada com a demora do namorado.
Sem pestanejar, Ernie ascende o crematório e incinera os pedaços do corpo, porém a fumaça da chaminé se espalha no ar causando uma chuva forte que chega até o cemitério fazendo Scuz e os outros dispersarem.
Frank começa a ficar pálido e esgotado e confessa aos amigos que ele e Freddy inalaram o gás do tambor e nisso Ernie chama uma ambulância mantendo discrição.
A chuva contendo os restos da substância reanimadora presente no corpo incinerado se espalha pelo solo fazendo os mortos do cemitério despertarem de seus caixões.
Tina adentra no galpão e encontra um morto vivo deformado que a segue até ela cair das escadas que dão no andar inferior, fazendo-a se esconder em um dos armários assim que se recompõe.
Nisso, chegam Scuz e os outros que ouvem os gritos de Tina e correm até o depósito subterrâneo, onde o morto vivo de antes ataca o líder da gangue mortalmente.
Os paramédicos chegam ao necrotério e examinam Freddy constatando que ele não tem pulso e tão pouco batimento cardíaco além do fato que a temperatura de seu corpo está similar a de um cadáver.
Tina reencontra os amigos e evade com eles do galpão debaixo de chuva de volta ao cemitério onde mais corpos emergem fazendo geral se dividir. Trash por sua vez, é pega por um dos mortos revividos.
De volta ao necrotério, os paramédicos consideram Freddy e Frank como mortos apesar deles ainda estarem conscientes e racionais e nisso chegam Tina e os outros anunciando o ataque dos zumbis. Os paramédicos voltam para ambulância para solicitar reforços mas são atacados pelos mortos vivos.
Casey e Suicide ficam para trás e se trancam no depósito para tentar impedir a entrada dos mortos vivos.
Ernie vai até a ambulância e presencia os zumbis se banqueteando com os paramédicos e abre fogo contra eles dando vários tiros. Sem obter sucesso, o velho volta ao necrotério e conta aos outros o que acabara de presenciar. Ele ainda diz que é necessário chamar a polícia, porém o telefone está mudo no momento.
Os mortos chegam ao necrotério e todos se juntam para bloquear as entradas dando início a uma luta pela sobrevivência. Enquanto isso, na ambulância, um dos zumbis usa o rádio comunicador para solicitar à central que envie mais paramédicos (ou seja, mais comida o que é muito hilário).
Spider obriga Ernie a falar o que está acontecendo enquanto o estado de Freddy e Frank piora. Depois de tudo explicado, Spider e os outros surtam pois constatam que Freddy e Frank estão se tornando mortos vivos dadas as circunstâncias.
Do lado de fora, o reforço policial chega enquanto os mortos vivos instauram o caos tentando arrombar a barricada e um deles acaba matando Chuck e um dos mortos que está só com a metade de cima é agarrado e amarrado.
Ernie interroga o morto vivo perguntando por que ele quer devorar pessoas e este que fala responde que ele e seus semelhantes comem apenas os cérebros, pois estes servem como um tipo de morfina, pois aliviam as dores de estarem mortos.
Spider se junta a Ernie e Burt querendo saber como acabar com os mortos vivos.
Enquanto isso, Trash transfigurada numa morta viva ataca um mendigo.
Longe dali, Casey e Suicide seguem isolados e em pânico.
Tina e os outros resolvem levar Freddy e Frank semi mortos para uma capela e tranca-los lá. Tina resolve ficar junto com o namorado.
Uma viatura chega onde está a ambulância onde encontram os corpos dos paramédicos e o policial que chegou ao local é tragado por um dos mortos vivos que solicita mais policiais pelo rádio patrulha.
Ernie resolve usar um frasco de ácido altamente corrosivo como única linha de frente contra os mortos, enquanto Freddy desperta como zumbi querendo o cérebro de Tina. Burt e os outros ouvem os gritos da jovem e atacam no jovem zumbi com ácido e uma boa dose de porrada.
Os mortos vivos continuam forçando a porta do necrotério e nisso, Ernie acaba quebrando o pé. Burt sugere a Spider fugir em seu carro enquanto Tina cuida de Ernie ferido. Spider dá cobertura afastando os mortos vivos e entra na viatura juntamente com Burt, porém o veículo quebra no caminho forçando a dupla a seguir correndo até o galpão onde encontram Casey e Suicide ainda vivos.
Enquanto isso, Frank que ainda tem um pouco de consciência, se joga no crematório para evitar se tornar um zumbi.
A situação fica crítica a ponto de chegar uma viatura aérea anunciando uma barricada, o que faz Burt e os outros entrarem em pânico pensando em como se defender.
Ernie e Tina se escondem no sótão do necrotério, mas Freddy os encontra e começa a torturar a namorada psicologicamente.
Burt consegue um telefone intacto e aciona a polícia revelando o apocalipse zumbi, mas um dos mortos vivos corta a comunicação.
O desespero leva Burt a acionar o coronel Glover do exército, um velho conhecido que fica a par do ocorrido e se dando conta que o nível de contaminação pelo gás reanimador tomou proporções extremas a única frente de defesa dos EUA é lançar uma bomba nuclear de destruição massiva capaz de atingir vinte quarteirões, o que de fato acontece numa cena antológica.
A chuva contaminada no entanto, chegou a outras cidades e em outros cemitérios fazendo uma nova leva de mortos voltarem a vida...
Obviamente isso era um gancho para uma continuação que se estendeu até uma quarta parte. As sequencias posteriores foram perdendo a qualidade do primeiro longa que é um clássico irretocável esbanjando efeitos práticos e uma maquiagem muito boas para a época.
Não tem mais muito o que falar que eu já não tenha dito na introdução. No mais, que John Russo, criador da história foi parceiro de George Romero no clássico A noite dos mortos vivos de 1968 e que depois disso, a dupla se separou para seguirem rumos separados, sendo que Russo ficou com os direitos da marca "Living Dead" enquanto Romero teve que se contentar em usar apenas "Dead" em suas produções a seguir, as sequencias do clássico de 1968, até o início dos anos 1990 quando foi produzido o remake da obra máxima sessentista.
De resto, a direção é impecável, a trilha sonora trás tudo que havia de melhor no meio do punk rock e toda a contextualização dos clichês que foram usados nos filmes de zumbis a seguir foi muito bem explicada sem forçar a barra ou fugir da física do negócio, o que deu um up nas produções do subgênero que seguiram a fórmula.
Título obrigatório para quem curte não só o subgênero do terror, mas também para quem curte um bom trash bagaceira.
Trailer:
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