Seguindo o mês dedicado a um dos maiores mestres do terror, entramos num tipo de narrativa bem diferente mas que ainda sim tem toda a essência de um conto original de Stephen King e ao mesmo tempo mostrando sua versatilidade: um quarto de hotel mal assombrado.
Mas não é só um quarto assombrado qualquer e sim um quarto que provoca todo tipo de dano mental a quem se hospeda testando seus limites, brincando com seus sentimentos, fazendo perder a noção do tempo até não sobrar um pingo de sanidade da vítima e esta desistir da própria vida.
Esse é o pontapé para o início da trama que nos apresenta a um escritor ocultista que resolve seguir uma sugestão de passar uma noite em um quarto de hotel com fama de ser assombrado. E o que se segue e tudo que já foi escrito: o protagonista vai passar todo tipo de inferno em pouco mais de uma hora e meia lutando para não perder a sanidade, uma verdadeira missão impossível.
A trama mostra do primeiro ao último minuto como o ceticismo pode ser deixado de lado e como as emoções se misturam, os traumas reprimidos vem a tona pela sensação de remorso, o que nos faz ficar pensativos: será que isso é fruto do que o quarto 1408 pode provocar ou o protagonista só está surtando por não saber lidar com a dor? isso já vamos ver na resenha a seguir...
Tudo começa com o já mencionado escritor Mike Enslin dirigindo no meio de uma noite chuvosa saindo dos limites da cidade de Fairfield (que eu chuto ser uma referência a mesma cidade onde se passa o filme Pague para entrar, reze para sair) até ele chegar num hotel onde pretende passar a noite até seguir viagem na manhã seguinte.
Ao fazer o check in, Mike menciona ao casal de gerentes sobre o quarto de um hotel chamado Dolphin que tem a fama de ser assombrado por eventos paranormais que supostamente causaram a morte de vários hóspedes.
Na manhã seguinte, Mike se dirige a um evento pouco movimentado onde ele passará um tempo com sua meia dúzia de fãs para uma tarde de autógrafos logo depois de uma arrastada entrevista.
Em um outro momento, Mike sai para surfar na praia atá acabar se afogando por um descuido.
Na cena seguinte, Mike checa sua caixa postal e vai á um café onde abre as correspondências e uma delas é um cartão escrito "Não entre no quarto 1408", o que ele acaba contrariando ao iniciar uma reserva no Hotel Dolphin que lhe é confirmada pelo agente do escritor, Sam Farrell que conseguiu um retorno do hotel a solicitação da reserva.
Momentos depois, Mike finalmente dá entrada no tal hotel sendo recebido pelo gerente Gerald Olin que em seu escritório lhe oferece uma garrafa de bebida como suborno para o escritor reconsiderar sua hospedagem e ainda lhe oferece outro quarto para que ele possa reportar sua experiência sem que ninguém desconfie de nada, pois o 1408 se tornou proibido depois das 56 mortes que ocorreram por lá.
Mike faz a egípcia e exige passar uma noite no lugar para entregar para seus fãs uma experiência verdadeira pois ele preza pela honestidade e nisso, Olin menciona que ninguém aguentou ficar mais do que uma hora naquele lugar maldito.
Como Mike segue sendo cético acreditando que a fama do quarto assombrado é mero marketing, Olin mostra a ele as fotos das vítimas fatais tiradas pelos peritos entre outros registros por escrito, o que também não faz o escritor mudar de ideia. Olin então o leva até o andar de número 14 deixando a próxima vítima do 1408 a própria sorte sem nem cruzar a porta do elevador.
Procurando pelos eu quarto, Mike nota uma atmosfera calma e silenciosa até finalmente chegar ao mal falado lugar que não aparenta a primeira vista ser grande coisa, exalando uma aura neutra e normal.
Se aprofundando pelos cômodos, Mike faz seu primeiro registro pelo gravador de vos e ao abrir a janela para respirar, do nada o rádio liga sozinho na música We've only just begun do lendário The Carpenters, (aliás gravem bem pois esta música vai tocar muito durante o filme) além de que a cama que antes estava arrumada de um jeito agora está arrumada de outra forma e com um chocolate de cortesia em cima e como se não bastasse, um rolo de papel higiênico que antes não estava no banheiro magicamente apareceu neste curto espaço de tempo.
Mike acredita que há alguém escondido no quarto em um local estratégico fazendo a coisas aparecerem e tenta traçar uma rota para surpreender o invasor, porém não encontra ninguém por perto.
Depois de ligar para a recepção para solicitar o conserto do ar condicionado, Mike ouve uma vos feminina cantarolando uma canção de ninar vindo do quarto ao lado e ao parar, ele faz um escaneamento espectral com um bastão luminoso por toda casa e somos vislumbrados brevemente com imagens dos corpos das vítimas do quarto espalhados por todo lado.
Do nada, Mike ouve a porta bater e é o zelador do Dolphin que veio checar o ar condicionado, porém, sabendo do histórico do 1408 o servente se nega a sair do elevador e passa instruções de como consertar o termostato e quando o escritor consegue obter sucesso, o zelador já picou a mula.
Mike se deita na cama e o rádio relógio liga sozinho na mesma música dos Carpenters e marcando 59 minutos em ordem decrescente, tempo que os hóspedes anteriores conseguiram ficar por lá, ou seja, é como se o quarto estivesse desafiando Mike e cronometrando quanto tempo ele vai resistir.
Então, Mike se levanta e vai até a janela que se fecha sobre sua mão amassando-a com o impacto. Ao chegar no banheiro para lavar a mão na pia, Mike é atacado por um jato de água fervendo do lavabo. O rádio relógio se liga sozinho novamente na mesma música e o telefone toca. Quando Mike atende fala com a recepcionista que não fala nada com coisa nenhuma enquanto o desesperado apenas lhe pede que deixe ele sair para procurar um médico.
Sem a ajuda da recepcionista, Mike resolve sair por conta mas ao passar a chave pela fechadura, ela é tragada deixando-o trancado por dentro. Como saída alternativa, Mike abre a janela e grita por socorro percebendo a silhueta de um homem na janela de um prédio em frente o Dolphin e ao tentar chamar a atenção do mesmo, Mike percebe que ele só replica seus movimentos como se fosse um mímico ou um reflexo no espelho.
Do nada, um homem misterioso aparece e tenta atacar Mike com um machado, mas quando o escritor acende um abajur, a entidade desaparece. Mike joga um dos abajures pela janela na tentativa de chamar a atenção de alguém na rua, porém sem sucesso.
Logo depois, Mike ouve a vos de sua filha pequena Kate dizendo estar vendo ele e pedindo ao pai para procurar por ela.
Mike registra tudo assustado em seu gravador, até que a televisão se liga sozinha exibindo uma gravação caseira de Mike com sua filha Kate e sua esposa Lily em tempos felizes. Pasmo, Mike tenta tomar um trago da bebida que Olin lhe deu, mas acaba vendo o fantasma de um homem e depois o de uma mulher saltarem pela mesma janela.
Seguindo, Mike ouve o choro de um bebê vindo d quarto ao lado, o mesmo de onde vinha a cantarolada de ninar que segue ao passo que o som do choro fica distorcido e ecoante penetrando na mente do escritor que surta jogando uma cadeira na parede.
Mike vê uma luz branca vinda do banheiro e ao adentrar é transportado para um quarto de asilo onde fica cara a cara com seu mentalmente doente pai sentado numa cadeira de rodas.
Ao voltar ao banheiro real, Mike reflete e insiste estar preso em um pesadelo além de se dar conta de que perdeu a noção do tempo.
Uma das paredes racha e começa a vazar um líquido preto e viscoso. Mike confere o mapa dos corredores tentando traçar uma rota de fuga e resolve sair pela janela por onde segue caminhando rente e abraçado á parede até chegar à janela do quarto do lado onde uma mulher lhe dá um soco na cara e logo depois se joga da janela para a morte se revelando um espírito.
Mike então entra por onde a estranha saiu só para perceber que aquele é o mesmíssimo quarto 1408 onde as luzes começam a oscilar até se apagarem e ao olhar pelo olho mágico, o escritor vê uma parede de tijolos brancos com uma mensagem escrito "Me queimem vivo".
Ao repassar seus registros de voz, Mike percebe que tudo que ele gravou pegou alguma espécie de interferência eletrostática e no mesmo instante ele é transportado para uma memória do passado: ele e Lily estão em um quarto da ala infantil de um hospital desolados pela notícia de que Kate que padeceu de uma doença terminal tem pouco tempo de vida lhe sobrando.
Ouve-se então, a vos de Kate novamente dizendo estar procurando pelo pai e ao segui-la, Mike encontra um espírito no banheiro que desaparece num piscar de olhos.
A temperatura do quarto começa a cair drasticamente e Mike percebe que seu celular está sem sinal e recorre a conexão sem fio de seu laptop para pedir ajuda via vídeo conferência para Lily onde ele implora á mulher que chame a polícia, só que a influência do hotel faz com que a recepção das mensagens do escritor sejam distorcidos fazendo a mulher não entender o que está acontecendo.
Do nada, os sprinklers disparam e estragam o laptop além de causar um curto na luz.
Sem saída, Mike remove a tela de um duto de ar e rasteja pela ventilação tentando chegar ao quarto ao lado onde visualiza a mulher com o bebê até que uma entidade morta-viva aparece rastejando e persegue o escritor que lhe mete uma bica estourando sua cabeça podre e no processo, ele cai de volta em seu quarto.
Mike tem uma visão com Olin falando com ele de dentro da geladeira e entra em surto.
Na sequencia, Mike é levado até uma outra lembrança: o dia em que Kate já estava ciente de que ia morrer e esta faz perguntas aos pais sobre o paraíso e questionando a bíblia. Na cena seguinte, Mike discute com Lily por ela ter colocado ideias na cabeça da filha sobre céu e Deus, o que deixa claro que a fé do escritor já estava em frangalhos naquele momento.
Com o quarto congelando, Mike faz uma fogueira e queima as fotos das vítimas do 1408 até ouvir a vos de Lily vinda do laptop que magicamente voltou a funcionar e esta diz estar indo busca-lo em quinze minutos, porém o escritor diz que ela não vai conseguir chegar a tempo visto que o tempo estipulado pelo rádio relógio está se acabando.
A imagem de Mike na câmera do laptop volta a enganar Lily fazendo o verdadeiro entrar em um novo surto seguido de um terremoto que faz não só o chão mas toda a estrutura do quarto ceder e virar escombros, Além disso, Mike ouve vozes vindas dos quadros nas paredes cujas vítimas clamam por sus vidas. Não bastasse, uma tromba d'água invade o quarto alagando tudo e tragando o escritor.
Mike acorda na cena da praia, onde ele havias e afogado e é levado para o hospital onde acorda novamente aos cuidados de Lily . Confuso, Mike relata o que sofreu no 1408, porém Lily não entende nada dando a entender que tudo aquilo foi só um sonho.
Depois de receber alta, Mike tem um d.r com Lily do qual havia se afastado depois da morte de Kate.
Na cena seguinte, Mike registra no laptop toda sua suposta experiência no quarto 1408 e no corte que segue, ele vai até o correio entregar um pacote e acaba vendo nos funcionários do estabelecimento as figuras dos funcionários do Hotel Dolphin e estes começam a marretar toda a parede do local fazendo Mike surtar e se dar conta de que ele nunca saiu do 1408.
A porta se abre e vemos um grande vazio e depois, o fantasma de Kate aparece dizendo sentir frio e ela abraça o pai. A menina morre nos braços de Mike que entra em pânico até que o corpo da pequena se desintegra ao mesmo tempo que o rádio relógio toca a música de sempre.
Mike começa a quebrar tudo até cair exausto no chão. Do nada, o quarto volta ao normal e o telefone toca e é a recepcionista como sempre falando nada com nada.
Repentinamente, uma cobra laçada aparece pendurada no teto dando a sugestão de que Mike deve se matar enforcado e além disso, ele percebe que seu reflexo não aparece no espelho e como se não bastasse ainda alucina com sua lápide junto a de Lily e Kate.
Mike se vê enforcado no reflexo do espelho e ao atender o telefone mais uma vez, o aparelho começa a derreter, porém aquilo era só mais uma ilusão, pois o telefone reaparece intacto.
Conformado em morrer, Mike faz um coquetel molotov e o arremessa queimando o quarto enquanto ele fuma calmamente.
Do lado de fora do hotel, os hóspedes começam a correr com o incêndio seguido da chegada dos bombeiros e de Lily.
o 1408 sofre uma explosão e Mike se arrasta para debaixo de uma mesa surtando com a voz de Kate até apagar.
Os bombeiros conseguem tirar Mike dos escombros e ao voltar a si, ele pede ao bombeiro que o resgatou que não entre no quarto 1408 ao mesmo tempo que vemos Olin parabenizando o escritor por ter conseguido sobreviver.
Mike acorda no hospital ao lado de Lily e tempos depois de receber alta, ele transfere seu escritório e resgata seu gravador semi derretido depois do mesmo ter servido de evidência no caso do incêndio e ao colocar para tocar, não só ele, mas Lily também ouve a voz de Kate...
Na verdade esta última cena é um dos cortes que o filme recebeu quando ganhou seu lançamento em home vídeo. No cinema o filme finaliza com a cena em que Mike acorda na praia confuso acreditando que tudo foi um sonho. Um dos cortes para mídia física foi mais além, mais precisamente na cena em que Mike está no correio e este é demolido por espíritos e ele volta a real dentro do 1408 surtando. Depois disso é que veio o último corte onde Mike é socorrido com vida e tudo termina com Lily ouvindo a vos de Kate no gravador.
Mas existe sim um final alternativo onde Mike morre no incêndio e Lily o sepulta ao lado de Sam Farrell. Olin chega de surpresa trazendo uma mala com os pertences de Mike recuperados no incêndio entre eles o gravador, mas a viúva se nega a recebe-lo. Olin senta-se em seu carro e começa a ouvir a gravação e ouve a vos de Kate. Ao mesmo tempo ele vê brevemente uma versão morta-viva de Mike tentando agarra-lo e na sequencia ele vê ainda no cemitério uma menina pequena e seu pai que ele relaciona como sendo Mike e Kate. A cena final, vemos o espírito de Mike dentro do 1408 sendo chamado por Kate, ele a atende e desaparece...
O roteiro ficou a cargo de três nomes: Matt Greenberg que tem no currículos clássicos como: Reino de fogo, Halloween H20, Colheita Maldita 3 entre outros; Larry Karaszewski que tem no currículo filmes como: O pestinha 2, O agente teen e Meu nome é Dolemite e Scott Alexander que trabalhou na trilogia O pestinha, Maus lençois e O mundo contra Larry Flint, o que significa que gente de experiência garantiria um roteiro aceitável, o que de fato o trio fez: acertou na narrativa sufocante e imersiva.
Já a direção ficou a cargo do sueco Jan Mikael Rafstrom, conhecido por: O ritual, Zona de perigo e Raízes do mal, o que garante uma direção decente e muito bem conduzida nos levando a momentos marcantes, jumpscares imprevisíveis e enquadramentos de câmeras precisos que trazem ótimas tomadas valorizando cada pedaço do quarto 1408, somado a sua cinematografia sombria que torna o cenário aquilo que ele tem que fazer: enlouquecer.
A atuação de John Kusack no papel do protagonista é precisa, bem dirigida e muito imersiva convencendo o espectador com suas expressões faciais, sua total entrega é simplesmente primorosa e faz deste um de seus papeis mais memoráveis sem dúvida nenhuma.
Ainda temos a atuação icônica de Samuel L. Jackson no papel do gerente do Hotel Dolphin que consegue emanar uma presença assustadora e enigmática, nos fazendo pensar se aquele personagem é mesmo real, se ele é a entidade que controla o quarto 1408, se tudo não passa de um jogo ou de um teste de fé e de resistência levando para um lado mais fora do realismo.
Temos também uma breve aparição de Tony Shalhoub, veterano protagonista da série Monk no rápido papel do agente do protagonista, Sam Farrell, um baita desperdício de talento para alguém tão gabaritado. O cara apareceu em somente uma ou duas cenas não fazendo nada de importante. Para mim é uma das poucas falhas que a produção cometeu.
No mais, os efeitos práticos e especiais empregados no decorrer do filme agregam muito ao andamento da trama e a imersão do mesmo, como na cena que o quarto 1408 começa a se desfazer, ou quando uma tromba d'água inunda o lugar todo; aquilo foi simplesmente muito bem produzido. A presença constante da música dos Carpenters durante a trama soa como uma provocação já que em português o título da canção é "Nós só estamos começando", ou seja, o quarto 1408 a cada momento brinca com a mente do protagonista dizendo de forma subliminar que ele ainda não viu nada.
A subtrama do protagonista foi muito bem trabalhada e não encheu linguiça como normalmente faria, muito pelo contrário, foi direta e reta e ainda deu um incentivo a mais para o público criar um vínculo com o personagem e ajudou a moldar o seu caráter e destrinchar seu passado cheio de arrependimentos e de culpas, sendo que até então o que sabíamos dele era que ele tinha um certo ceticismo e escrevia apenas para agradar ao nicho sendo que ele próprio não estava acreditando na história do quarto assombrado.
A evolução do ceticismo até o total desolamento do protagonista mediante aos acontecimentos passados em uma hora no tempo do filme é perfeita e muito convincente, o que só prova o talento de Kusack em interpretar personagens surtados. A trama consegue resumir toda uma vida do personagem principal em pouco mais de uma hora e meia de forma sensacional sem deixar lacunas e nos fazendo penetrar no íntimo do mesmo querendo saber onde tudo vai parar.
De longe 1408 é um dos melhores filmes inspirados na obra de King e vale do início ao fim sem medo de ser feliz, aliás medo é uma coisa que o filme provoca muito bem.
Trailer:
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