Faz muito tempo que eu trouxe uma resenha difícil de ser escrita e isso foi lá na retomada do blog depois de uns bons anos de hiato. No caso o filme era o polêmico Campo 731: Bactérias - A maldade humana, que narrava os fatos reais da segunda guerra mundial durante a ocupação do exército imperial às províncias miseráveis da China. Não bastando ainda houve um verdadeiro show de desumanidade com os prisioneiros de guerra que era submetidos a cobaias de experimentos irreversíveis.
Pois bem, descubro que Men Behind the Sun, nome original do filme é uma quadrilogia e então eu me enchi de forças e coragem para maratonar as outras três produções de Hong Kong e me surpreendi mais com a última parte e por isso eu pulei as partes 2 e 3, mas não significa que eu não venha um dia a trazer a resenha para vocês.
O caso é que esta quarta parte originalmente batizada como Black Sun ou Men behind the sun 4 retrata outro capítulo traumático lá perto do início da segunda guerra durante a tomada da até então capital chinesa pelas tropas do exército imperial nipônico às ordens do ditador Hiroito onde houve outro banho de sangue e ao longo do filme nós somos apresentados a personagens diversos vivendo situações reais catalogadas segundo depoimentos de sobreviventes. Não existe um protagonista propriamente dito, porem durante a obra nos temos uma presença mais expressiva de um jovem tio de um casal de crianças e filho de uma senhora de idade (além de outros familiares que não tem muita relevância) que vivem os horrores da ocupação da tropa inimiga.
Durante vários momentos, a parte dramatizada da obra se mescla com fotos e breves imagens em vídeos reais gravadas e fotografadas pelo exército japonês e recuperadas durante a reviravolta do exercito americano e aliados e usados como provas no julgamento do exército japonês, o que trás uma carga dramática muito forte e um choque de realismo imenso nas atuações.
Os relatos a seguir contém gatilhos, pois assim como Campo 731 e suas sequencias esta também é pesadíssima e revoltante, então preparados ou não, partiu resenha...
Como dito, tudo se passa com a eclosão da primeira guerra, mais precisamente em 1937, quando o exército japonês na época comandado pelo imperador ditador Hiroito iniciam a ocupação em províncias chinesas após o rendimento do exército local. Entre estas províncias está a capital da China que na época era Nanking (ou Nanjing dependendo da região).
Chegando com o pé na porta, o exército imperial já inicia uma verdadeira chacina em praça pública sem poupar qualquer civil e os poucos que ainda vivem se escondem em seus casebres, como por exemplo a família central desta história real que tem como principais membros a avó, o tio e um casal de crianças batizados na obra como John e Jean.
Sobre as ordens do tenente-general Tani Hisao, o exército imperial segue desalojando e separando famílias além de incendiar suas cabanas humildes além de executar aqueles que nãos ervem para o trabalho braçal, ou apenas aqueles que para eles lhe proporcionarem diversão.
Sasaki, oficial da décima sexta divisão do exército imperial é o responsável por manter a imprensa nipônica a par de suas conquistas sempre se auto promovendo como o mais rendável entre o auto escalão, enquanto que do outro lado, Hisao e seus homens se apossam do edifício original do governo chinês que agora se torna sua cede e alojamento durante a sua estadia.
Neste momento, o tio de Jean e John se esconde juntamente com eles após a ocupação de sua casa com a ajuda da avó. Enquanto deixa as crianças num local mais ou menos seguro, o tio observa a praça onde ocorre uma execução em massa aos civis.
Os homens de Sasaki o informam sobre o avanço da invasão as outras províncias o que inicia uma competição entre os representantes das altas patentes de quem mata mais apenas pelo poder e pela satisfação.
Nas ruas, os soldados abordam uma mulher grávida perto de parir e a agridem com chutes na barriga. Indignado, o tio das crianças tenta intervir mas é agredido, enquanto um dos soldados por pura psicopatia abre a barriga da gestante com a lâmina da baioneta e tira o bebê de lá empalado e ainda vivo por pouco tempo, o que faz o tio gritar de pânico.
Frente a um monumento destruído, os soldados do exército imperial empilham vários cadáveres abatidos elevando ainda mais o fogo da competição.
Depois de uma longa conversa entre Hisao e o samurai Kenshi Takayama, o militar convida o espadachim a testemunhar a força de sua katana Kanagura decapitando prisioneiros sem a menor piedade.
Enquanto isso, em um templo budista recém tomado pelo exército imperial, vemos aos poucos os jovens monges que rezam fervorosamente serem executados e empilhados sobrando apenas o líder budista que pede bençãos á Buda antes de ser morto em uma imagem icônica.
No vilarejo, mais um grupo grande de civis são desalojados e executados aos olhares de Jean e John que vêem o tio misturado a multidão.
Na cena seguinte, somos levados a uma zona de refugiados reconhecida pelo Japão e liderados por uma jovem norte americana chamada Bates, porém o local é tomado e monitorado apesar da resistência.
O tio das crianças acaba sendo feito refém e levado a uma dessas zonas e entre os prisioneiros começa uma divergência entre iniciar uma contra ofensiva pelo fato deles estarem em maior número ou se conformar com a morte certa, pois eles não tem poder bélico.
Um grupo destes reféns é executado à beira de um lago.
O tio acaba se tornando escravo para serviços braçais como carregar baldes pesados de água e outras provisões para os soldados que se fartam de comer do bom e do melhor além de promoverem um verdadeiro bordel com as jovens chinesas, o que acabou gerando ao ocorrido nesta época com o nome alternativo de "O estupro de Nanking".
Outros soldados seguem pelos vilarejos incendiando casebres porém desta vez sofrendo uma certa resistência resultando numa rara baixa com alguns soldados abatidos pelos civis furiosos.
O pesadelo segue até que chegamos perto do final de 1937 quando as forças do general Matsui Iwane tomam a frente da zona de refugiados apesar das insistências dos representantes de países ocidentais em proteger a integridade dos oprimidos.
Durante este tempo, Iwane propôs uma limitação de soldados em Nanking pelo fato de que o local estava praticamente sob controle, mas isto eleva a tensão entre os oficiais de alta patente que contestam esta decisão com medo de enfraquecer sua linha de frente e sofrerem um motim por parte dos chineses.
Numa noite de rara tranquilidade, o tio de John e Jane tenta se esquivar dos soldados que fazem a ronda visando procurar pelas crianças que a essas alturas se tornaram andarilhas desamparadas.
De volta a zona de refugiados, Bates volta a se opor aos soldados do império insistindo que o governo americano tem poder sobre aquele lugar o que garante a imunidade a ela, seus colegas e sobretudo os civis, porém um dos soldados debochados rasga a bandeira dos Estados Unidos em tiras.
Uma jovem chinesa tenta fugir dos soldados se infiltrando na casa de um casal pobre com um bebê que fazem sopa naquele momento Os soldados atacam o marido e a esposa tomando seu bebê o jogando na panela fervente para a morte.
Na sequencia, os soldados alcançam a jovem que aproveitou para fugir novamente e ela é espancada brutalmente.
Na cena seguinte, vemos um grupo de muçulmanos cortejando vários corpos embalados em mantas, sendo um deles o de um bebê nas mãos de um homem que se supõe ser o pai, até que um dos soldados interrompe o trajeto, joga o pequeno cadáver no chão e o salpica de tiros. O pai recolhe o corpinho e o cortejo segue com suas orações pacificamente.
Os soldados recebem cartas de seus familiares apenas para relatar mortes de pais, irmãos na linha de frente além da escassez de alimentos por conta da inflação astronômica que o Japão vem enfrentando, o que gerou uma terrível crise econômica no país.
Passado a tristeza, os oficiais se apossam de uma carga gigantesca de ópio e ambicionam exportar tudo e vender inciando um estouro de dependência química entre os oprimidos pela guerra.
À essa altura, a pilha de cadáveres frente ao lago lá está enorme e os poucos que ainda vivem seguem explorados como escravos apesar de um tradutor local que sobrevive seguindo as ordens dos militares para poupar seu filho pequeno dizer mentiras como as propostas de os civis trabalharem para os japoneses em troca de dinheiro, comida e roupas.
Estes civis, são cadastrados no banco de dados do exército imperial passando a andar com um cartão de identificação para não serem executados por engano, entre eles o tio de John e Jean.
Um dos civis, mostra resistência a tirania e acaba sendo morto queimado como forma de intimidar os próximos que ousarem fugir da regra.
Como pilha de corpos no lago está numerosa, o exército abre fogo cremando a todos de uma só vez levantando uma grande nuvem negra.
Na cena seguinte, vemos a avó de John e Jean e uma jovem que eu suponho ser filha ou nora dela desonradas com as virilhas sangrando e visivelmente abatidas após serem estupradas, tendo elas se tornado escravas sexuais dos oficiais. O tio que lá estava escondido vendo tudo se revolta e ataca os soldados sendo morto com um corte no rosto.
Em um campo de execuções onde parte dos corpos está crucificado, o tradutor e seu filho são convidados para que o homem pose para uma foto simulando uma decapitação para a imprensa, porém um dos oficiais que empunha a katana o executa de verdade fazendo sua cabeça rolar até o filho do homem que segurava empolgado uma bandeira do Japão.
Do outro lado, os soldados fazem uma inspeção entre as mulheres e descobrem através do toque nas partes intimas que uma delas está vestida de homem para fugir da sina de se tornar escrava sexual. Espancada e despida, a pobre é amparada por um jovem monge que lá passava e um dos soldados tenta obrigar o servidor de buda a violentar a espertinha, porém como ele resiste acaba tendo sua virilha cortada.
Ao anoitecer, John e Jean perambulam pelos escombros do vilarejo até serem detectados e perseguidos por soldados e estes acabam se escondendo no cesto de colheita de peixes de um civil que lá passava. Depois de enrolar os soldados, o bom homem dá uma brecha para as crianças fugirem até elas finalmente chegarem em sua casa onde a avó sentindo que seu fim está chegando embebeda os corpos de seus familiares com querosene optando por queimar a casa e pede ás crianças que fujam para que sua linhagem não morra.
Neste momento, chegam uma dupla de soldados que agarram e iniciam o estupro de Jean, enquanto a avó lava sua honra salvando o neto o trancando do lado de fora implorando que ele fuja e em seu último ato de heroísmo, a idosa despeja o fogo de sua lamparina dando início a um incêndio que leva sua vida, a da desonrada Jean e a dos soldados que viram tochas humanas.
Desesperançoso, John caminha anestesiado e sem rumo...
A cena derradeira, nos leva a uma celebração natalina com cantoria de um coral, primeiramente de uma família de sobreviventes e depois do exército imperial e durante
o segmento, temos cortes com imagens reais (e as dramatizadas no longa metragem) do massacre ocorrido em Nanking enquanto que em paralelo, John agora órfão, anda sozinho, sem esperança e triste pelo breu e pela umidade das ruas de sua terra natal.
Uma narração, diz que o massacre seguiu por mais seis semanas somando incontáveis mortes a mais que jamais serão esquecidas e que felizmente foram justificadas com a prisão em massa do exército imperial seguido do suicídio de alguns e a execução sumária de outros...
O filme acerta diretamente no coração ao recriar com ótimas atuações e efeitos práticos mantendo a excelência do primeiro filme neste quesito. Infelizmente esta sequência não chamou tanto a atenção do público ocidental como a primeira parte, porém não deixa de ser um filme muito bom.
Como eu disse lá em cima, em vários momentos temos imagens reais mescladas a dramatização nos deixando a par de quais personagens são inspirados em vítimas reais e isso valoriza muito a obra e também perturba de certa forma, mas é um ótimo artifício para trazer mais veracidade a trama ainda que de forma apelativa.
No mais, a cinematografia é muito bem feita, o figurino, a trilha sonora imponente cheia de instrumentais militares exaltando a superioridade do exército imperial é simplesmente incrível criando um certo senso de medo prante uma força maior, ou seja, uma possível jogada da produção para manter o público imergido á obra com todas as forças. Se foi isso mesmo, conseguiram.
É claro que descrever não surte o mesmo efeito que ver as imagens em tempo real, então recomendo a obra apenas para quem realmente tem um coração forte, pois as cenas mais emblemáticas são devastadoras mesmo com certos efeitos práticos um tanto quanto datado, pero no mucho. Então desfrutem, mas com prudência.
Trailer:
Nenhum comentário:
Postar um comentário