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Aqui no nosso point você encontra resenhas, curiosidades, trailers e críticas dos mais variados subgêneros de filmes de terror de todos os tempos. Tudo muito bem explicado para poder atender á vocês da melhor forma possível. Antes de mais nada, estejam cientes que todas as nossas resenhas CONTÉM SPOILER! Por isso, desfrute do nosso conteúdo em sua totalidade por conta e risco. Minhas críticas não são especializadas, eu sou apenas um cinéfilo entusiasta e tudo que eu relato nos parágrafos referentes as resenhas é puramente minha opinião pessoal, por isso sintam-se a vontade para concordar ou discordar mas mantendo a compostura no campo dos comentários ao final da postagem da semana. O cronograma deste blog segue as postagens de sábado sem hora definida e este ciclo só é quebrado tendo mais de uma postagem na semana em caso muito especial como por exemplo lançamentos. Preparados? então, apaguem as luzes, preparem um balde enorme de pipoca, garanta seu refrigerante e bom divertimento!

sábado, 5 de agosto de 2023

Cão Branco / White Dog (1982)



Os filmes clássicos de ataque animal sempre tiveram um viés fantasioso sempre se agarrando á ficção científica de alguma forma para poder fortalecer o enredo e tornar sólido o argumento principal, mas a produção de Jon Davisone de 1982, dirigido e roteirizado por Samuel Fuller baseado no romance Chien blanc de Romain Gary, trouxe uma abordagem mais realista e forte.

Cão branco é uma produção massacrada pela crítica, tomada como sendo um longa metragem de cunho racista (muito injustamente diga-se de passagem) e que por este motivo foi-se esquecida com o tempo e hoje só quem é do nicho se lembra com um certo afeto do filme e defende seu argumento com unhas e dentes daqueles que não entenderam ou que fingem que não entenderam sua proposta.

A questão aqui é justamente uma luta incessante de um adestrador para reabilitar um cachorro que foi treinado para atacar apenas pessoas de cor, hábito este muito comum na época do Apartheid na África do sul e o entrave é justamente este: poderia alguém fortemente doutrinado poder se recuperar ou será que a lavagem cerebral e o ódio semeado de forma involuntária são de fato irreversíveis?

A coisa toda acontece depois que um cachorro da raça pastor alemão de pelo branco é encontrado por uma atriz apresentando um comportamento dócil na frente dela, mas pelas suas costas o animal dá suas escapadas pela cidade e ataca ferozmente pessoas de pele negra.

Quando os ataques se multiplicam e fica claro a escolha das vítimas do cachorro, Julie não tem outra alternativa a não ser levá-lo até um centro de adestramento esperando que ele possa se reabilitar ou as consequências poderão ser desastrosas.

Vamos ao enredo de uma vez...

Tudo começa no breu da noite onde acidentalmente a aspirante a atriz Julie Lawyer acaba atropelando um cachorro de médio porte, branco da raça pastor alemão que aparenta estar perdido. Por compaixão, a moça leva o animal até o veterinário mais próximo.

Depois de um breve check up é constatado que o cachorro só teve feridas leves e Julie é aconselhada pelo veterinário a levar seu novo amigo para um canil para que espere o dono aparecer e se isso não acontecer a adoção não será algo viável visto que o animal já tem idade e as pessoas tem preferência por filhotes.

Na manhã seguinte, Julie que levou o cachorro para casa espalha cartazes com uma foto do animal pela cidade com a ajuda de seu namorado Roland.

A noite, enquanto cochila vendo um filme de guerra pela tevê, o cachorro ouve um ruído suspeito vindo de fora e ao averiguar o que está acontecendo, flagra Julie sendo atacada por um desconhecido. Sem medo, o cachorro ataca o agressor ao saltar da janela e na sequencia o imobiliza mantendo-o assim até a chegada da polícia.

De manhã, Roland cancela um programa com Julie por negócios enquanto a atriz tenta impedir o cachorro de transformar sua roupa íntima em retalho, o que ela leva como uma brincadeira.

O cachorro vai até o quintal e ao avistar uma lebre selvagem acaba a perseguindo até desaparecer. Ao dar por falta do animal, Julie vai até o canil municipal procurá-lo mas não encontra. Por seguinte, o procura na carrocinha onde também sai de mãos abanando.

A noite, o cachorro perambula pela rua até encontrar um funcionário da companhia de coleta de lixo de pele negra que é brutalmente atacado até perder o controle do caminhão de coleta e colidir com uma vitrine.

Horas depois, o cachorro reaparece depois que Julie recebe um telefonema. Ao recolhe-lo da rua, Julie dá um banho no cachorro sem desconfiar que o sangue espalhado por todo o pelo do animal é de uma pessoa inocente.

Logo depois, Roland aparece e consola Julie por ter sido recusada em uma entrevista para um emprego melhor na televisão.

Dias depois, Julie leva o cachorro até o estúdio onde ela trabalha e ele acaba atacando Helen, uma amiga e colega de trabalho de Julie que é negra e a agressão acaba custando a mulher o seu papel na produção.

Roland tem uma discussão com Julie tentando convence-la a colocar o animal violento em um canil, pois isso pode custar muito caro para ambos se os ataques continuarem, mas namorada se nega por medo do animal ser maltratado e por que ela já se apegou muito ao novo amigo.

Julie então, resolve levar o cachorro até um adestrador chamado Carruthers que doma qualquer tipo de animal em sua reserva e ainda dá um show de dramalhão expondo seu hate pelo R2D2 de Star Wars (o que eu achei hilário 😅).

Carruthers conhecendo os antecedentes do animal aconselha Julie a se conformar com o sacrifício do mesmo, pois ele não pode ser reeducado.

Na saída, o cachorro ataca um funcionário do local que é negro e só não o machuca pois está contido por uma focinheira. Nisso, aparece Keys, um adestrador mais jovem e negro que diverge sua opinião com Carruthers acreditando que há uma possibilidade de reabilitação para o cachorro levantando a hipótese de que ele foi doutrinado por algum supremacista branco, sua única explicação para o motivo de apenas pessoas de cor estarem sendo atacados por ele.

Depois que Julie visita Helen no hospital, o treinamento do cachorro se inicia com Keys no comando super disposto a converter o animal.

Julie vai até a oficina de Carruthers e assiste isolada numa jaula uma demonstração de ataque do cachorro á Keys que está completamente protegido por uma roupa acolchoada. Ainda sim, o adestrador fica surpreso com a violência empregada no ataque.

Keys no entanto, consegue cansar e acalmar o cachorro e ao fim do treino o isola.

Depois da demonstração, Keys diz a Julie que o treinamento para tornar cachorros em racistas é algo que acontece desde a época da escravidão quando senhores feudais doutrinavam seus cachorros para procurar e atacar escravos fujões. A prática acabou virando um costume e se espalhou até cair no gosto dos supremacistas dos tempos atuais.

Keys ainda diz que acredita que lobotomizando esses cachorros doutrinados há de se expurgar o mal que neles reside, mas que o mais provável é que o ódio depositado no animal só tende a crescer até o momento em que ele deixará de distinguir cores e vai atacar todo mundo.

A dedicação de Keys transcende noites chuvosas e o cachorro simplesmente não demonstra nenhum sinal de evolução.

O cachorro, revoltado por não receber alimentação abre um buraco na grade da jaula e escapa no mesmo momento em que Keys faz uma ronda preocupado com a agitação dos outros animais.

Carruthers tenta esfriar os ânimos do sócio, porém o cachorro consegue escapar pulando a cerca elétrica. Nisso, Julie é notificada.

Na manhã seguinte, perambulando pelas ruas, o cachorro encontra um negro a caminho da igreja e o ataca ao entrar no templo sagrado matando-o. 

Enquanto procura pelo cachorro, Keys o encontra saindo da igreja e temendo o pior, entra no local e encontra o negro morto pondo-se a chorar reflexivamente.

Notificada, Julie encontra-se com Keys que diz acreditar que aquele pobre homem não foi a primeira vítima fatal do cachorro e que só não abriu fogo contra o animal por que ele insiste que ele pode se reabilitar e que mesmo que outra tragédia volte acontecer mais uma e outra vez ele não vai desistir.

O cachorro é recapturado e apresenta uma leve porém notória evolução, o que leva Keys, Carruthers e Julie a comemorarem o progresso com um farto jantar.

Cinco semanas depois, segue o treinamento e agora Keys tenta confundir o cachorro usando uma camisa branca, o que faz o animal desistir de morder sua barriga quando o adestrador a esconde com a vestimenta. O cachorro então se acalma e pela primeira vez permite uma aproximação.

Keys coloca o animal á prova apresentando-o a um negro desconhecido e apesar dos latido insistentes o cachorro se contém enquanto o adestrador o tem sob a mira de um revólver apenas por desencargo de consciência.

O ajudante negro de Keys consegue fazer amizade com o cachorro e o domador se alivia tomando um bom trago. Depois disso, ele telefona para Julie dizendo que o cachorro tem salvação e a atriz vai correndo até a reserva onde ao chegar encontra um senhor de idade chamado Wibber Hull e suas duas netinhas e este alega ser o dono do cachorro.

Além disso, Hull admite ter adestrado o cachorro fazendo Julie surtar desprezando-o e praticamente mandando o senhorzinho enfiar a caixa de chocolates que ele a havia presenteado naquele lugar. 

Sem estar disposto a levar desaforo para casa, Hull ameaça denunciar Julie se ela não devolver seu mascote e ela retruca dizendo que o cachorro está sendo adestrado por um negro que irá reabilitá-lo.

Enquanto isso, sem proteção alguma, Keys resolve passar o cachorro pela prova final soltando-o e oferecendo seu corpo como alvo ao mesmo tempo que ele tem o animal na mira de sua arma.

Julie chega na hora e o cachorro solta um rosnado, mas se acalma cedendo a um abraço. Pelas costas da amiga, o animal rosna novamente com a chegada de Carruthers que é brutalmente atacado. Sem outra alternativa, Keys executa o cachorro á tiros deixando-o agonizar.

Enquanto isso, Julie ajuda Carruthers a se levantar e com a ajuda de Keys, ela leva o velho adestrador para um lugar seguro deixando o cachorro sem vida, porém agora finalmente em paz.

Um final chocante e para alguns revoltante, eu sei. Mas esta foi a forma do produtor / roteirista Samuel Filler expressar o que ele e o autor da obra original Romain Gary pensam sobre a doutrinação canina, ou seja, que não há recuperação e mediante tudo o que Keys previu e que de fato aconteceu a única via pela qual o cachorro ia acabar transitando era a da morte inevitável.

Infelizmente esta é uma realidade que eu concordo, tem coisas nesta vida das quais não existe volta e a doutrinação é como uma droga: ela entra na cabeça, vicia, confunde, destrói e depois disso não tem o que fazer. E é o mesmo com as pessoas e até pior por que estas são seres racionais e ao contrário dos cachorros, as pessoas se deixam manipular deliberadamente. Mas isso é a minha opinião.

No mais, o filme apresenta uma carga dramática excelente, provoca gatilhos principalmente em quem tem carinho pelos cachorros, então já sabe...

A trilha sonora é um brinde aos nossos ouvidos e não poderia ser por menos já que quem ficou a cargo foi o saudoso e supremo maestro Ennio Morricone que sempre acertava em suas composições.

O único rosto verdadeiramente conhecido para mim foi o do também saudoso Paul Winfield que além de esbanjar talento da pele do adestrador Keys ainda tem um vasto currículo com filmes como: Marte ataca, King (onde Paul deu vida ao líder ativista Martin Luther King), A maldição dos mortos-vivos, Acima de qualquer suspeita, Os maiorais, Risco total, Olho por olho e Lágrimas de esperança, tendo sido esta última responsável por sua indicação ao Oscar de melhor ator em 1972.

Vale muito a pena uma visita ou re-visita a este longa metragem pela sua ousadia, sua direção eficaz, sua trilha sonora e sobre tudo seu enredo envolvedor e frio que aborda com muita qualidade e solidez um assunto difícil de se debater, principalmente nos dias de hoje.


Trailer:



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