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Aqui no nosso point você encontra resenhas, curiosidades, trailers e críticas dos mais variados subgêneros de filmes de terror de todos os tempos. Tudo muito bem explicado para poder atender á vocês da melhor forma possível. Antes de mais nada, estejam cientes que todas as nossas resenhas CONTÉM SPOILER! Por isso, desfrute do nosso conteúdo em sua totalidade por conta e risco. Minhas críticas não são especializadas, eu sou apenas um cinéfilo entusiasta e tudo que eu relato nos parágrafos referentes as resenhas é puramente minha opinião pessoal, por isso sintam-se a vontade para concordar ou discordar mas mantendo a compostura no campo dos comentários ao final da postagem da semana. O cronograma deste blog segue as postagens de sábado sem hora definida e este ciclo só é quebrado tendo mais de uma postagem na semana em caso muito especial como por exemplo lançamentos. Preparados? então, apaguem as luzes, preparem um balde enorme de pipoca, garanta seu refrigerante e bom divertimento!

sábado, 26 de agosto de 2023

Seytan / Şeytan (1974)

 


Eu ainda não acredito que eu tive a coragem e a paciência para assistir a uma das mais ousadas e hilárias obras da sétima arte que plagia de forma descarada um grande clássico do terror: O exorcista.

Trata-se do turco Şeytan (em português Satã) de 1974 que trás uma carga cômica em meio a atuações pastelão, maquiagens sofríveis, efeitos práticos miseráveis e zero inovação.

A história é praticamente um ctrl+c e ctrl+v da obra hollywoodiana do ano anterior, mudando é claro a ambientação que se passa no Istambul e nos apresenta a menina Gül de doze anos que vive na alta sociedade com sua mãe que não tem nome na trama, aliás, quase ninguém tem um nome além da própria Gül.

Nós temos logo ao início a introdução clássica com um sacerdote creditado apenas como "o exorcista" que é a contraparte do padre Merrin em uma escavação arqueológica onde ele descobre uma peça satânica antiga representando uma entidade conhecida apenas como Şeytan e posteriormente um monumento erguido em homenagem ao mochila de criança feito com um orçamento de troco de pinga.

Do outro lado, temos Tuğrul Bilge que seria a contraparte do jovem padre Karras que assim como o original vive numa crise de fé com a doença degenerativa da mãe que já tem certa idade e ao invés de padre, ele é um escritor que lançou um livro sobre Seytan e que abandonou a carreira de médico.

A vida da pequena Gül corre na maior tranquilidade até a mãe descobrir que ela anda brincando com um tabuleiro Ouija e que ela fala com um amigo imaginário, que mal sabe ela ser o próprio Seytan. 

Daí para frente temos um aprofundamento dos personagens principais montando aos poucos seus respectivos background: a mãe de Tuğrul Bilge tem uma piora em seu quadro precisando ser internada num sanatório onde ainda precisa ser contida por amarras em seu leito.

Em um certo momento, temos o primeiro evento paranormal a acontecer com Gül que é quando a cama da menina começa a se mexer sozinha lançando a menina para o alto várias vezes tendo que a sua mãe pular em cima dela para tentar conte-la, o que mais parecia um concurso de touro mecânico de tão mal feita essa tomada, uma verdadeira comédia.

Um pequeno salto e temos o sepultamento tradicional turco da mãe de Tuğrul Bilge que viera a óbito entre uma tomada e outra. Consequentemente temos uma festa na casa de Gül onde a menina começa a apresentar um comportamento evasivo e obsceno com os convidados chegando inclusive a urinar em sua própria camisola (um líquido escuro que mais parecia chorume vazando do saco de lixo) depois que a mãe resolve coloca-la na cama. 

Enquanto Tuğrul Bilge tenta levar uma vida normal, Gül apresenta uma leve piora o que faz a mãe levá-la para ser examinada dos pés a cabeça pelos melhores médicos do país e nenhum deles consegue encontrar nenhuma alteração no quadro clínico da menina.

Aliás, eu ressalto aqui que eu não me segurei nas cenas dos exames tomográficos, pois as máquinas mais avançadas da época pareciam ter saído de algum desenho animado, como uma que parecia um tipo de bate-estaca que socava a cabeça de Gül com uma espécie de pistom e o outro, um aparato com ruído de tiros de metralhadora. Eu simplesmente não aguentei e ri feito criança.

Depois disso, chegamos a um momento em que a mãe de Gül chega em casa depois de ter ido a um compromisso e placidamente encontra um amigo da família morto com um tremendo rombo na cabeça nas escadas da entrada da residência, e eu tenho que concordar que essa maquiagem ficou até que legal. A questão aqui é que o rapaz estava de ama seca de Gül tal como Burke Dennings que tomava conta de Regan e posteriormente descobrimos que foi a própria sobre o efeito do demônio que o jogou da janela de seu quarto.

Após de alguns cortes nós temos o encontro entre o chefe de polícia (que investiga a morte do amigo  da mãe de Gül, que ele acredita ter sido assassinado) e Tuğrul Bilge e aqui eu quero ressaltar com muito bom humor uma curiosidade que não dá para passar batida: acontece que o ator Erol Amaç que dá vida ao oficial em outra ocasião interpretou a versão de baixo de orçamento de Spock no plágio turco de Star Trek (ou Jornada nas estrelas para os mais idosos), coisa que eu vim a descobrir fazendo a pesquisa para esta postagem. Aliás, este mesmo filme se encontra onde eu encontrei Şeytan, num canal oficial no youtube chamado Fanatik Klasik Film, caso alguém se interesse (inclusive tanto na versão SD com qualidade de VHS tanto em HD com uma qualidade de encher os olhos e alguns poucos minutos extras, porém sem legenda alguma).

O tempo vai se passando e Gül fica acamada de vez sob os cuidados da mãe que numa ocasião encontra um punhal com o demônio talhado no cabo sob o colo da filha enquanto esta dorme, ao contrário da versão hollywoodiana onde foi encontrada um crucifixo que posteriormente a menina usa para se masturbar, o que acontece aqui também de forma muito hilária devido a atuação caricata da atriz e o sangue exagerado que parecia mais com borrões de tinta Suvinil.

Além disso, nós temos a famosa virada de cabeça de 360° que a menina dá, dando claros indícios de possessão que aqui também é um show a parte já que o efeito usado aqui é claramente uma boneca de corpo estática com a atriz interprete de Gül por atrás simplesmente virando seu corpo; é bizarro de tão engraçado e isso que eu não mencionei que a menina já está começando a ficar verde e com os cabelos embolados.

Tem também a clássica cena da menina sofrendo espasmos involuntários na cama fazendo-a mexer a cabeça para cima e para baixo, mas aqui, Gül parece uma roqueira batendo a cabeça de tão hilário e mais uma vez eu não consegui me segurar e ri muito.

Este é o estopim para a mãe procurar a ajuda de Tuğrul Bilge tendo como referência os estudos de seu livro e nisso temos toda aquela preparação para o ato principal: o desdém do jovem escritor na verídica possessão, sua investigação, a entrevista gravada com a menina agora completamente possuída e cheia de marcas de cortes pelo rosto que atende o jovem escritor se utilizando de seu conhecimento multi lingual. Aliás, vale lembrar a primeira vomitada de Gül que cospe uma gosma amarela que mais parece bosta mole de bebê, direto na cara do jovem padre, o que é claro, eu incrementei ao meu hall pessoal de momentos impagáveis do longa.

Tuğrul Bilge só vem a se convencer totalmente da possessão de Gül ao presenciar um pedido de socorro enviado do subconsciente da menina em forma de uma escrita sobre a pele da barriga da mesma tal qual Regan fez no original.

Isso faz com que Tuğrul Bilge procure um velho sacerdote que é o maior representante da religião que predomina na Turquia (que até onde eu pesquisei é a islâmica apesar do país ser laico) solicitando um exorcista e então o mesmo exorcista do inicio do filme é requisitado e temos a entrada triunfal do velho lembrando muito a mesma cena épica da chegada do padre Merrin a casa de Regan. 

A partir daí, entramos na meia hora final do filme onde acontece a melhor (ou pior) parte: o exorcismo. Nós temos a chegada do velho exorcista e seu confronto inicial, seguido de várias pérolas: a vomitada de sopa de ervilha que aqui mais parece cimento, a levitação da cama de Gül possuída, o pescoço da mesma inflando feito um sapo boi enquanto ela solta um grunhido, entre outras barbaridades... é tudo muito hilário para um filme que tentou emular um clássico do terror setentista.

Aliás, tem um momento bastante ímpar que ocorre depois levitação da própria Gül desta, onde ela golpeia ambos os exorcistas que anteriormente amarraram seus pulsos, até que de repente aparece uma imagem do monumento demônio sobre a cama e a possuída se curva para ele várias vezes até se cansar e cansar a dupla.

Por fim, chegamos ao último ato que se inicia após o velho padre tomar um remédio para o coração de seu estojo; ele pede ao parceiro para ficar a sós com a possuída para seguir com o exorcismo, pois o jovem está com sua fé fragilizada devido a tortura psicológica que o demônio impôs a Tuğrul Bilge, emulando a vós de sua mãe morta além de sua própria imagem, (tal como Pazuzu fez com Karras) e só iria atrapalhar o restante do processo.

Na tomada seguinte, o velho padre inicia uma nova sessão, daí a cena corta para Tuğrul Bilge que tem uma breve conversa com a mãe de Gül e quando volta ao quarto da menina, encontra o velho exorcista sem vida e daí tem mais uma pérola deste clássico absurdo que é quando o jovem escritor tenta em vão reanimar o velho, e o que mais parece é que ele está martelando uma estaca no peito do mesmo como se estivesse exterminando um vampiro.

Então, temos o embate do jovem escritor com o coisa ruim que é engraçado também, pois ele soca o ser das trevas de forma superficial e mal coreografada. Depois, o demônio possui o jovem aos poucos e nisso, Tuğrul Bilge se joga do alto da janela rolando as escadas. A gente percebe que a queda foi mal executada, pois é notável que o ator toma impulso para rolar até o fim sempre que ele perde as forças.

Na sequencia, chega o chefe de polícia, uma vez que nesta versão não existe nenhum padre Dyer para dar a extrema unção ao padre moribundo. Ao contrário, o policial tenta tomar as últimas palavras do jovem padre que só consegue responder apertando a mão do oficial confirmando que não houve assassinato, mas sim seu suicídio deliberado até que por fim ele morre.

Gül por fim, está livre da possessão e sua mãe coloca a casa à venda, leva a filha para a igreja, templo ou seja lá que nome tem e lá, a menina encontra o velho sacerdote que deu o aval para a execução do exorcismo e aqui ele faz a parte do padre Dyer, já que Gül, ao ver a figura do sacerdote, beija a mão do mesmo com um semblante de gratidão, assim como Regan fez ao reconhecer o crucifixo de Dyer, o beija no rosto e o abraça, sendo que ela não se lembra do ocorrido enquanto estava possuída e portanto não tem lembranças claras do padre Karras que lhe salvou a vida.

Enfim, minhas impressões: esse filme para mim só vale mesmo pelas risadas, pelo status de cult que a obra alcançou ao tentar de forma ousada adaptar com poucos recursos um clássico absoluto que se consolidou com sua forma crua e extrema de se abordar um assunto controverso, no caso o exorcismo.

O roteiro copiou nos mínimos detalhes cada quadro da versão original e para a nossa felicidade (ou não) a trama aborda somente a versão com o corte final que foi para os cinemas deixando para trás tudo aquilo que só veio a ver a luz do dia com o lançamento da versão do diretor que trouxe pérolas como o caminhar da aranha, a celebre cena em que Regan possuída desce as escadas fazendo contorcionismo.

A trilha sonora se destaca pelo tema principal que copia de forma descarada o mesmo tema clássico, só que com um arranjo instrumental diferente e mais suave. Fora isso, temos outras faixas com músicas mais agitadas que lembram muito Halloween de John Carpenter e alguns clássicos giallo setentistas.

A estética do filme pode causar estranheza, mas temos que lembrar que aquilo era outra época e outra cultura, não tem como comparar a mansão cheia de cor e vida de Gül com a mansão sóbria e de paredes monocromáticas de Regan. Porém, não há como passar pano para o mal envelhecimento que é uma coisa notória visto o figurino e os penteados da época, coisa que com o nosso clássico exorcista não aconteceu, já que a obra segue irretocável e impecável até os dias de hoje em todos os sentidos.

Eu não encontrei e nem esperava encontrar nada a respeito de receita e orçamento, direção, produção ou qualquer outra coisa mas eu creio que o mais obvio é que o longa custou a bagatela de um pastel e tenha arrecadado um troco de pinga e que tenha sido produzido e dirigido por algum manolo encontrado no ponto de ônibus.

Quanto os efeitos, eu acho que já ficou claro que todo o investimento feito em cima do longa foi um belo erro, pois visto a maquiagem da menina Gül, esta dava mais vontade de rir do que gritar de medo. Aliás, traduzindo alguns comentários da postagem do filme no youtube eu percebi que várias pessoas compartilham a mesma opinião que eu sobre o fato da Gül em seu estado normal dar mais medo do que quando ela está possuída por conta de seus trejeitos e seus olhares penetrantes. Vai por mim, é a mais absoluta verdade.


Trailer:


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