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sábado, 11 de novembro de 2023

O Gato Preto / Black Cat / Kuroneko (1968)

 


Já faz algum tempo que eu venho querendo trazer uma resenha desta obra de mais de meio século que traz um conteúdo que flerta com a fantasia do folclore nipônico trazendo espíritos vingativos (onryõs no original) como antagonistas no meio da guerra civil da era feudal.

Juntando tudo que havia de melhor na época como samurais sanguinários, lutas épicas e muito drama.

A coisa toda acontece quando um grupo de samurais vindos do campo de batalha saqueiam a casa de uma humilde camponesa e sua nora e depois as estupram e as matam. No dia seguinte para ocultar as evidências, o grupo queima a cabana das mulheres, porém ambas acabam fazendo um pacto com uma entidade do mundo sobrenatural voltando a vida como espíritos para se vingarem.

Para fazer frente a esta ameaça que afeta um vilarejo em ascensão, um samurai sobrevivente de um massacre é requisitado para caçar as fantasmas depois que estas já fizeram algumas vítimas.

O filme começa com um bando de samurais exaustos depois de uma batalha sangrenta entrando em uma cabana as margens do bosque onde residem Yone e Shige, respectivamente sogra e nora, que tem sua comida saqueada e como se a desgraça fosse pouca, ambas ainda são violentadas coletivamente.

Depois de satisfeitos, os saqueadores matam as duas e largam seus corpos ao léu retornando no dia seguinte para se livrar dos cadáveres sendo necessário queimar a cabana. No entanto, de dentro dos escombros, os corpos são resgatados por um gato preto sobrenatural que lambe suas feridas.

Alguns anos depois, somos levados aos portões do palácio de Rajomon, onde um samurai que fazia a ronda encontra uma bela jovem de pele pálida e quimono branco com um véu ao qual ele acredita ser uma miragem ou algum tipo de alucinação devido a sua fadiga noturna, porém ao se constatar ser de fato uma donzela solitária no breu, o homem estranha a sua presença no bosque sozinha e tão tarde da noite.

A donzela, pede ao valente samurai que a escolte até o portão de sua casa que é logo próximo já que ela tem medo de andar sozinha e assim ele o faz. 

Ao chegar no portão de entrada, a jovem convida o samurai para entrar e se servir de saquê como forma de agradecer pela boa ação, e lá, a mãe da moça é hospitaleira e agradável. O homem sente conhecer as duas de algum lugar e pasmem... aquelas são Yone e Shige!

O homem se apresenta como sendo um fazendeiro seguidor de Raiko Minamoto, o líder dos samurais que trouxe a glória e várias vitórias em campo de batalha durante a guerra.

Na sequencia, o seguidor de Raiko alucina com os braços da jovem cobertos por pelos pretos e estranha a forma como ela bebe o saque já que ela o faz como se fosse um gato tomando leite no pires.

Depois da bebedeira, Shige seduz o samurai enquanto sua mãe dança.

A dupla acaba se entregando aos desejos carnais e no meio do coito, a jovem ataca o pescoço do homem destroçando sua vida e larga seu corpo ao léu.

Shige segue por dias e noites repetindo o ato com outros samurais seguindo o mesmo modus operandi e numa de suas tentativas, a vítima, desta vez um homem astuto percebe que a jovem donzela é encrenca e saca sua espada dando inicio a uma tentativa desenfreada de despachar o espírito vingativo da jovem, mas tudo acaba do mesmo jeito: com a morte do samurai.

A partir daí, o povo de Rajomon entra em pânico com a onda de assassinatos dando início a um rumor de que onryõs estão por trás das mortes, o que faz o imperador ordenar à Raiko, o líder dos mais fortes samurais do império que convoque seus melhores homens para caçar os espíritos.

Enquanto isso, nos campos de trigo, o jovem samurai Gintoki é o único sobrevivente de uma batalha entre duas províncias. Depois de vislumbrar os incontáveis corpos jogados ao trigal, Gintoki cavalga de volta para Rajomon, onde apresenta a Raiko a cabeça do líder de seus inimigos.

Depois de narrar suas aventuras, Gintoki recebe tratamento especial sendo banhado pelas servas de Raiko além de se deliciar com um banquete.

Como sua missão na guerra foi cumprida, Gintoki recebe permissão para voltar para seu vilarejo natal onde descobre através de um vizinho que no último verão Yone e Shige morreram queimadas e ambas são nada menos que a mãe e a esposa do jovem samurai.

Depois de ver os escombros de sua antiga cabana, Gintoki volta para Rajomon onde Raiko oferece a ele uma de suas mulheres e mais um banquete de honra.

A noite, Gintoki cavalga pelo bosque e encontra o fantasma de Shige que o atrai para a armadilha de sempre e chegando até a casa, ela apresenta sua mãe que é hospitaleira como de praxe e percebendo a semelhança de ambas com sua esposa e mãe, o homem as interrogam e as mulheres negam ser quem ele pensa.

Convencido de que as duas são os onryõs que o povoado fala, Gintoki exige que as mulheres se revelem e elas desparecem restando apenas o gato preto que observa o samurai surtar.

Depois de se acalmar, Gintoki monta em seu cavalo e procura pelas fantasmas nas redondezas de Rajomon e estas se escondem e se lamentam por não poderem contar a verdade para o samurai já que sua sina não permite.

Gintoki e as mulheres se reencontram um tempo depois e elas lhe servem saquê. Decidido, Gintoki insiste em obrigar a dupla a admitir que elas são Yone e Shige e a senhora oferece um aposento privativo para os jovens e os deixam logo em seguida.

Conversa vai, conversa vem e Gintoki percebe que há um gato preto por perto e Shige diz que aquele é um gato de rua o que faz o samurai se lembrar que sua família tinha um gato preto de estimação.

Depois da conversa, o casal se entrega a paixão iniciando um coito e na sequencia os dois dormem.

A fantasma de Yone desperta o casal e diz á Gintoki que está para amanhecer e portanto ele precisa ir andando.

Gintoki parte pouco depois chegando ao palácio imperial de Rajomon onde reporta para Raiko seu fracasso na busca pelas onryõs.

O tempo passa e o casal segue se encontrando as escondidas até se passarem sete dias e ao procurar por Shige novamente, Gintoki descobre através da fantasma da mãe que a jovem abriu mão de sua vida ao romper seu pacto revertendo sua eternidade a míseros sete dias (referente as sete vidas de um gato).

Yone revela que ela e a jovem enquanto agonizavam ofereceram suas almas aos deuses do mal para poderem se vingar mantendo sua identidade em segredo como condição e como Shige rompeu o pacto poupando seu marido, suas sete vidas foram tiradas uma depois da outra.

A senhora ainda diz que o objetivo de sua vingança é beber o sangue de todos os samurais até extingui-los, porém o ciclo foi quebrado uma vez que Shige se recusou a matar Gintoki e beber seu sangue.

Gintoki exige que a mãe revele quem as matou mas ela se nega e o samurai volta ao palácio imperial reportando o ocorrido á Raiko e o confronta depois que ele dá a entender que seu bando abusa dos pobres para saciar sua fome em todos os sentidos. O samurai exige que seu mestre o substitua por outro em sua missão, mas Raiko se nega.

Yone segue deixando um rastro de destruição e mortes pelo vilarejo.

Mais tarde, Gintoki encontra sua mãe e diz que ele precisa matá-la para recuperar sua honra ou ele será morto. Yone pede ao filho que ele vá até sua casa e recite um sutra para que ela possa descansar em paz e os dois cruzam o bosque juntos.

No caminho, Gintoki vê no reflexo de sua mãe em uma poça, sua real face: Bakeneko, um gato preto yokai (entidade sobrenatural) que pode assumir a forma humana e nisso, ele saca sua espada e arranca um braço dela  que se transforma num braço tomado por pelos pretos como uma pata de gato.

Gintoki entrega o braço de Bakeneko á Raiko que exige que o samurai fique recluso em um altar por sete dias para poder rezar e assim alcançar a purificação de sua alma e neste mesmo altar o braço do yokai fica exposto.

Dias depois, enquanto reza, Gintoki ouve uma vós dizendo "me devolva" e percebe que se trata de Bakeneko que quer seu braço. Gintoki pergunta se ela por acaso não é o yokai gato preto e exige que sua mãe descanse em paz.

Bakeneko exige que o samurai devolva seu braço alegando que aquela é sua arma e que sem ele não será possível beber o sangue dos samurais e a alma de Yone ficará vagando por toda a eternidade.

Gintoki segue rezando até se acabarem os sete dias de reclusão e exige sair para caçar o yokai, mas os guardas de Raiko não permitem.

Nisso, Bakeneko aparece e exige que Gintoki a deixe ver seu braço de perto por que ela não pode tocar no altar já que aquele foi erguido em respeito ao Deus que ela não segue explicando que sua crença são os preceitos do Yin-Yang (os princípios fundamentais do universo segundo a cultura chinesa).

Bakeneko assume sua forma verdadeira e recupera seu braço forçando Gintoki a sacar sua espada. Os dois iniciam um embate que termina com a fuga do espírito de Yone agora livre da influencia do yokai e este sobe aos céus finalmente encerrando sua missão.

Gintoki enlouquece com a partida da mãe e tem um infarto fulminante jazendo na neve do inverno que cai enquanto que das entranhas do bosque ouve-se o miado do gato preto...

Distribuído pela Toho (a mesma do clássico Godzilla de 1954), Kuroneko tem uma montagem e uma figuração impecável, a ambientação é bastante imersiva e as atuações são dignas do teatro.

A direção das cenas de ação é bastante competente usando e abusando das técnicas de chunori do teatro Kabuki que consistem em passar uma percepção de levitação, o que comumente o Japão sempre usou em seus longa metragens ambientados na era feudal.

Kuroneko faz referência a um conto japonês famoso chamado Yabu no Naka (conhecido por aqui como Dentro de um bosque) de Ryunosuke Akutagawa e também a obra Às portas do inferno (no original Hashomon) de Akira Kurosawa, diretor de clássicos do cinema nipônico como Yojimbo - O guarda costas e Os sete samurais.

Figuras das lendas milenares japonesas foram retratadas no filme como por exemplo: Minamoto no Raiko (944-1021), servo dos regentes do clã Fujiwara e Gintoki que possivelmente foi inspirado na figura de Kintoki, um dos seguidores de Raiko.

Uma obra indispensável para quem curte mistério e o folclore japonês. O enredo não é muito frenético então é preciso paciência para digerir as quase uma hora e quarenta da direção, mas isso não estraga a experiência já que o filme é recheado de cenas muito bem trabalhadas e dirigidas sob a batuta de Kaneto Shindo que também fez o roteiro além da cinematografia irretocável de Kiyomi Kuroda que garantiram a obra dois prêmios sendo um deles justamente o de cinematografia e o de melhor atriz pela atuação de Nobuko Otowa no papel da mãe Yone e do yokai Bakeneko.


Trailer:


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