Um grande porém bastante esquecido clássico do cinema francês nos trouxe cenas ousadas em meio a muito drama seguindo a vertente dos filmes que traziam a medicina e os loucos experimentos de médicos gananciosos que brincavam de ser Deus como pode ser visto em produções como "O cérebro que não queria morrer" ou "A ilha do doutor Monroe" (no caso a versão de 1977).
Aqui em meio a cenários propícios para um romance policial noir temos um médico enlouquecido pelo poder usando de todos seus recursos para trazer um novo rosto para a filha que ficou deformada após sofrer um acidente de carro. O grande problema é que este grande pai usa enxerto vivo de jovens e belas mulheres abduzidas e logo depois mortas e descartadas sem deixar rastros.
O grande empasse é que a mocinha apesar de inicialmente querer recuperar sua beleza escondendo sua deformidade atrás de uma máscara que a deixa inexpressiva, depois de muito refletir entende que o preço pela sua liberdade é alto demais e daí é que vem a grande virada...
Mas vamos pelo início que nos leva a um vislumbre detalhado as ruas de Paris à noite enquanto Louise percorre de carro alguns quilômetros com um misterioso passageiro usando sobretudo no banco de trás estranhamente silencioso e imóvel.
Chegando até um canal, Louise desce do carro e é aí que percebemos que o passageiro era na verdade o cadáver de uma jovem moça que é embalada e desovada às margens do rio.
Paralelo a isso, o renomado cientista e cirurgião Professor Gènessier realiza uma palestra acerca de um novo método de transplante de tecido corporal que irá revolucionar a medicina até que no meio da apresentação, o cientista recebe uma notícia vinda da polícia de que uma jovem com o rosto deformado foi encontrada sem roupas e sem identificação boiando no canal sob suspeita de afogamento e que ela pode ser Christiane, a filha desaparecida de Gènessier.
Guiado pelo inspetor Parot, o professor é levado ao necrotério onde o corpo é reconhecido como sendo de Chrstiane resolvendo todo o imbróglio.
Na manhã seguinte, o sepultamento de Christiane segue de forma fria com os sentimentos contidos com poucos presentes além do próprio professor, Louise e o noivo da jovem, Jacques Vernon.
Depois que a cerimônia se acaba e todos os convidados se vão, Louise que é assistente de Gènessier tem uma discussão com seu chefe dizendo "não querer voltar a fazer..." alguma coisa e esta leva uma bofetada certeira e por fim eles voltam para a mansão do professor.
Ao chegar a mansão, a dupla se separa e entram por acessos diferentes de forma estratégica e Gènessier entra por uma passagem secreta que dá em um quarto adjacente onde repousa uma jovem que esconde o rosto que é nada menos que Christiane que está se fazendo passar por morta até que o pai reverta as deformidades do seu rosto provenientes de um acidente de carro causado pelo cientista que excedeu a velocidade de seu veículo.
Subentende-se então que a garota identificada como Christiane era uma cobaia que Gènessier estava usando para trazer o rosto de sua filha as custas da integridade da vítima que teria um enxerto de rosto arrancado para uma transfusão.
Neste instante aparece Louise com uma máscara branca que ela coloca em Christiane para ela poder transitar livremente sem ver seu reflexo deformado do qual ela se envergonha. A condição incomoda a jovem mas esta é a única forma encontrada para ela poder ter acesso a casa sem ser reconhecida e que lhe garante ouvir nem que seja brevemente a vós de Jacques ao telefone, coisa que ela faz.
Na manhã seguinte, Louise segue os planos de Gènessier atraindo uma bela jovem que atende pelo nome de Edna Gruberg para uma armadilha convidando-a para ver uma peça de teatro com ela se aproveitando de que ela tem uma entrada extra.
Louise acaba persuadindo Edna a aceitar sua carona e a leva até a mansão de Gènessier e ao apresentar a jovem ao professor, a assistente aproveita do desmaio da vítima ao ver Christiane do alto da escadaria principal e a abduz até um cômodo secreto adjacente a garagem.
Lá funciona uma espécie de sala de cirurgia improvisada e na entrada tem um canil cheio de cães de rua resgatados estrategicamente por Gènessier para que seus latidos abafem todo e qualquer barulho vindo do esconderijo secreto. Cães estes que são os únicos amigos de Christiane além de uma grande gaiola repleta de pombas.
A pretensão do professor com o rapto de Edna é seda-la para quela tenha sua face retirada e enxertada em Christiane o que brevemente acontecerá, pois a vítima já está preparada em um leito e a jovem mascarada que lá está resolve examinar o rosto da cobaia e quando ela retira sua máscara, Edna acorda e solta um grito de pavor ao ver a deformidade de Christiane.
Um tempo depois, agora anestesiada, Edna passa pelo procedimento cirúrgico tendo seu rosto marcado milimetricamente e cortado de ponta a ponta com muito cuidado até ser completamente removido em uma cena forte e perturbadora até mesmo para os dias de hoje.
Na manhã seguinte, após receber outro cão de rua, Gènessier tem uma breve discussão com Louise que nos revela uma cicatriz cirúrgica mal procedida em seu pescoço a qual ela esconde com um longo colar de pérolas e que para variar é outro fracasso estético do professor. Além disso, ele diz que depois do sucesso do implante de enxerto em Christiane, o destino de Edna não o interessa.
Na sequencia, Louise leva o almoço para Edna e esta aproveita para acertar sua carcereira na cabeça e tenta iniciar uma fuga que é frustada pois todas as portas de acesso estão trancadas.
Ao descobrir a fuga de Edna, Gènessier corre pela casa para procura-la e acaba ouvindo um grito vindo de um dos quartos e ao chegar para averiguar ele observa pela janela o corpo sem vida de Edna do lado de fora dando a entender que ela saltou para a morte do andar superior.
Aproveitando-se deste trunfo, Gènessier com a ajuda de Louise, leva o corpo embalado de Edna até o jazigo da família e o esconde numa cova.
Dias depois, uma amiga de Edna relata as autoridades o desaparecimento da jovem e menciona que ela estava com uma mulher usando colar de pérolas na última vez em que foi vista e ela acaba se juntando a uma lista de jovens de beleza rara que também desapareceram.
Com seu rosto totalmente recuperado, Christiane diz ao pai que ela precisa voltar a viver normalmente e o professor sugere que eles façam uma viagem para o exterior usando identidades falsas para que as autoridades não o descubram.
No entanto, com o passar do tempo assim como Gènessier previu, o enxerto de Christiane entrou em processo de rejeição e necrosou sendo necessário a remoção do mesmo e a volta do uso da máscara.
Abatida, Christiane resolve buscar um pouco de conforto ouvindo a vos de Jacques ao telefone, mas desta vez Louise pega a jovem no ato e esta acaba deixando algumas sílabas escaparem o que faz o noivo entrar em alerta.
Enquanto Christiane se lamuria para Louise dizendo estar cansada de ser cobaia do pai, Jacques relata as autoridades ter ouvido a vos de sua amada e que suspeita que ela esteja de alguma forma viva.
O inspetor Parot resolve fazer um trato com uma jovem fichada que atende pelo nome de Paulette para que ela sirva de isca numa investigação acerca de Gènessier que a esta altura está sob suspeita e o plano é fazer com que a jovem se infiltre no hospital onde o professor trabalha.
Um tempo depois, Louise sonda algumas belas estudantes de uma universidade enquanto Gènessier atende alguns pacientes em seu hospital e entre eles nada menos que Paulette que lhe chama a atenção pela beleza e jovialidade e no mesmo instante o professor dá alta á ela.
A noite, depois de se trocar, Paulette pede informações sobre o próximo ônibus para os limites de Paris e na saída, acaba encontrando Louise que lhe oferece carona e entre uma cena e outra, a jovem é raptada e levada diretamente para a sala de cirurgia para a remoção de seu rosto.
Antes de proceder com a operação, Gènessier recebe Parot e Jacques que buscam informações sobre Paulette que foi dada como desaparecida, mas o professor consegue um álibi com a recepcionista do hospital que diz que a jovem pediu informações sobre o horário do ônibus dando a entender que ela já voltou para casa.
Frustrado por que a investigação pedida por ele não deu em nada, Jacques resolve acreditar que sua noiva está realmente morta.
Neste meio tempo, Paulette recobra os sentidos e se entrega aos prantos quando percebe estar amarrada e nisso Christiane aparece e tomada pela compaixão ela liberta a prisioneira sendo surpreendida por Louise, mas a assistente é acertada mortalmente com um bisturi no pescoço.
Enquanto Paulette foge, Christiane liberta os cães do canil e solta suas pombas e ao retornar para o esconderijo, Gènessier é atacado pelos cachorros que não dão chance para ele sobreviver.
No silêncio da noite, Christiane deixa sua própria gaiola em direção a liberdade enquanto seu pai jaz com a face deformada...
Apesar de ser considerado hoje como cult, na época de lançamento, Os olhos sem rosto enfrentou problemas com os censores europeus apesar de terem limitado o sangue, gravado em preto e branco e de ter suavizado o esteriótipo do cientista louco.
Nos Estados Unidos, o filme foi lançado em 1962 ganhando uma dublagem e o título alternativo The horror chamber of Dr. Faustus, onde também recebeu críticas duras, mas com o tempo e outros relançamentos, a obra se tornou apreciada e inspirada por outros cineastas.
Em 1983, Eyes without a face se tornou uma música sob a vos emblemática de Billy Idol, claramente uma homenagem à natureza poética a premissa do longa que nos apresenta uma jovem cujo olhar triste esconde um vazio no rosto (os olhos sem rosto) enquanto seu pai que expõe um rosto sempre sério e desprovido de qualquer emoção, tem seus olhos cegados pela ganância.
A cena da operação de extração de rosto é de longe a mais memorável e a mais perturbadora, além da máscara de Christiane que passa a ela uma impressão de inexpressão e artificialidade, além de um semblante de tristeza e solidão, o que define perfeitamente a personagem.
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